terça-feira, 21 de março de 2006

Diferença entre Furto e Corrupção


Marinho é aquele que foi filmado embolsando uma propinazinha de 3.000 reais
- dava para comprar 125 vidros de xampu e condicionador iguais aos que Maria
tentou furtar" - Revista Veja, 29/05/2005

André Petry
A empregada doméstica Maria Aparecida de Matos tem 24 anos, dois filhos
pequenos e acaba de deixar a prisão, onde passou um ano e sete dias.Ela foi
presa em flagrante quando tentava furtar um xampu e um condicionador numa
farmácia, em São Paulo. Os produtos custavam 24reais.

Enquanto isso...

Na época em que Maria tentava furtar cosméticos, o ex-governador de Roraima
Neudo Campos, foi pego no caso dos gafanhotos, que desviou uns 300 milhões
de reais da folha salarial do estado.
Campos foi preso, mas ficou só dez dias no xilindró. Solto em 6 de dezembro
de 2003, está livre desde então.
Livre, leve e solto... E rico...

Maria é analfabeta, só sabe desenhar o nome.
Nunca teve dinheiro para pagar advogado.
Depois de presa, foi atendida pela assistência jurídica gratuita e pela
advogada Sônia Regina Arrojo e Drigo, que se revoltou com o absurdo da
situação.

O primeiro recurso chegou à 2ª Vara Criminal, solicitava que Maria
aguardasse o julgamento em liberdade. A "Justiça" achou que pela gravidade
do ato (roubar shampoo e condicionador), ela tinha de ficar presa.
E Ficou....

Enquanto isso...

Jader Barbalho foi acusado de chefiar a máfia da Sudam, que patrocinou
roubalheiras de 1,7 bilhão de reais. Foi preso em Fevereiro de 2002.
Ficou onze horas atrás das grades. Está livre desde então.
Hoje é deputado federal pelo Pará. E muito rico......

Inconformada com a decisão da 2ª Vara Criminal, a defesa de Maria foi à mais
alta instância da Justiça paulista, o Tribunal de "Justiça". Voltou a pedir
que Maria aguardasse o julgamento em liberdade, mas, nesse meio-tempo,
aconteceu o julgamento. Maria foi condenada a um ano de detenção num
manicômio penitenciário. -Tinha de ficar presa e Ficou.

Enquanto isso...

A máfia dos vampiros, que assaltava o Ministério da Saúde havia treze anos,
foi estourada em maio de 2004. A polícia capturou dezessete integrantes do
esquema, suspeito de desviar até 2 bilhões de reais

Hoje os dezessete estão soltos. O líder das roubalheiras, Lourenço Peixoto,
ficou só 104 dias na cadeia.

Finalmente, a defesa de Maria recorreu ao Superior Tribunal de Justiça, em
Brasília. O recurso não negava o furto, apenas pedia que Maria fosse
libertada devido à insignificância do crime, princípio que já tem
jurisprudência formada. Um ministro do STJ, Paulo Gallotti, entendeu a
inacreditável injustiça que se fazia contra Maria e mandou liberta-la.
Depois de 1ano e 7 dias na cadeia,
Maria foi solta numa terça-feira.

Enquanto isso...

Na mesma terça-feira, o corrupto dos Correios, Maurício Marinho, depôs na
polícia. Marinho é aquele que foi filmado embolsando uma propinazinha de
3.000 reais - dava para comprar 125 vidros de xampu e condicionador iguais
aos que Maria tentou furtar.

Marinho foi indiciado, mas está livre.
Saiu do depoimento na polícia e fez um lanche no McDonald's.

Na prisão, Maria foi torturada. Perdeu a visão do olho direito. Era vaidosa
e, segundo o repórter Gilmar Penteado, da Folha de S.Paulo, que a
entrevistou, tenta esconder o defeito no rosto quando conversa com alguém.

Na terça-feira, quando lhe deram a notícia de que finalmente seria
libertada, Maria não acreditou. Achou que fosse brincadeira. "Pensei que
jamais iria sair de lá" - disse ela.

Infelizmente, Isso é o Brasil.

Se você quer que o Brasil seja um país mais ético, passe essa mensagem para
o maior número de pessoas que você conhece.

Somente dessa maneira podemos divulgar as injustiças que ainda ocorrem no
país e a desfaçatez dos políticos ladrões que continuam impunes... e
Ricos....

"Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional"

segunda-feira, 20 de março de 2006

domingo, 19 de março de 2006

Renascença: Decamerão

Decamerão – Giovani Boccaccio


Quarta Novela

...Aconteceu que o monge viu uma jovem lindíssima, filha, talvez, de algum dos lavradores da região. A jovem estava apanhando algumas ervas pelos campos. Assim que o monge a viu sentiu-se logo acometido pela concupiscência carnal. Por esta razão, acercou-se mais da jovem Travou conversa com ela. E tanto saltou de uma palavra a outra, que terminou por firmar um acordo com ela. Por esse acordo firmado, levou-a a sua cela, sem que ninguém o percebesse. Instigado por um desejo excessivo, brincou com ela, mas de um modo, porém, menos cauteloso do que seria conveniente.

Sucedeu que o abade do mosteiro, deixando a sua cama, onde dormira, e passando, sem fazer ruído, em frente à sala do tal monge, escutou a barulheira que ele e a moça faziam, juntos, lá dentro. Para identificar, mais precisamente, as vozes, o abade chegou bem próximo à porta da cela, aproximou-se silenciosamente, para ouvir. Notou sem nenhuma dúvida, que havia uma mulher dentro da cela. E sentiu-se tentado a ordenar que a porta se abrisse. Entretanto, pouco depois, julgou que seria mais conveniente agir de outro modo, em semelhante caso. Retornou ao seu quarto. E aguardou que o monge deixasse a cela.

Apesar de ocupado com a jovem, e ainda que disso gozasse enorme prazer, o monge não deixou de desconfiar de algo; a certa altura, tivera a impressão de ouvir um arrastar de pés, pela ala dos quartos de dormir; por essa razão, olhou através de pequeno orifício e, viu, claramente, que o abade ali estava escutando o que acontecia em sua cela; entendeu, perfeitamente, que o abade devia saber que a jovem estava em sua companhia. Conhecendo o monge que, por essa razão, seria punido com grave castigo, mostrou-se profundamente aborrecido. Contudo, sem deixar que a moca que estava em sua cela percebesse a sua contrariedade, buscou em sua mente muitas e muitas coisas, esperando achar algo que o auxiliasse a escapulir daquela enrascada. Finalmente, ocorreu-lhe uma nova artimanha, que calhava bem ao fim que ele procurara. Depois, fingindo já ter ficado o suficiente em companhia da jovem, disse-lhe:

—Quero achar uma maneira de você sair daqui de dentro sem que a vejam; assim sendo, fique aqui mesmo, calmamente, até que eu regresse.

Deixou a cela. Trancou-lhe a porta com a chave. E encaminhou-se diretamente para a cela do abade. Dando-lhe a chave, conforme a tradição a que todo monge obedecia, quando se ausentava do mosteiro, disse, com expressão tranqüila e amiga:

— Senhor abade, não pude, esta manhã, ordenar que trouxessem ao mosteiro toda a lenha que pude arranjar; por esta razão, com sua permissão, desejo ir ao bosque, para mandar que a tragam.

O abade, desejando informar-se por completo com relação à falta praticada pelo monge, ficou satisfeito com o seu modo de agir. Contente, recebeu a chave, e deu ao monge permissão para ir ao bosque. Ficou convencido, como se percebe , de que o monge nada sabia do fato de ele, abade, ter ficado escutando a porta de sua própria cela.

Bastou o monge retirar-se, e o abade procurou resolver o que seria mais certo fazer, primeiramente: se abrir-lhe a cela, na presença de todos os monges do mosteiro, para que ninguém pudesse apresentar razões de queixa contra ele no momento em que, pela sua autoridade abacial, castigasse o monge pecador, ou se escutar, primeiro, da jovem mesma, a sós, como se passara o caso. Cogitando, entretanto, que a jovem podia muito bem ser esposa ou filha de algum homem que ele não gostaria de fazer passar por essa vergonha, decidiu que o melhor seria tratar, primeiramente, de saber quem era aquela moça para depois resolver o que faria. Silenciosamente, dirigiu-se para a cela do monge; abriu-lhe a porta; entrou; e outra vez fechou-a por dentro, naturalmente. Vendo entrar o abade, a moça ficou desconcertada. Cheia de vergonha e de medo, pôs-se a chorar. O senhor abade olhou-a por muito tempo; vendo-a tão bela e sensual, sentiu inesperadamente, ainda que um tanto idoso, os apelos da carne. Eram apelos não menos ardentes do que aqueles que sentira o jovem monge. E a si mesmo começou a dizer:

—Enfim, que razão há para que eu deixe de desfrutar um prazer quando posso desfrutá-lo, se, por outro lado, os aborrecimentos e os tédios estão sempre preparados para que eu os prove, queira ou não? Aí esta uma bela moça nesta cela, sem que nenhuma pessoa, no mundo, saiba disso. Se posso fazer com que me proporcione os prazeres pelos quais anseio, não existe nenhuma razão para que eu não a induza Quem é que virá a saber disto? Ninguém, nunca, o saberá! Pecado oculto é pecado meio perdoado. Um acaso destes quiçá jamais venha a se verificar de novo. Julgo ser conduta acertada colher o bem que Deus Nosso Senhor nos envia.

Assim refletindo, e tendo modificado inteiramente o propósito pelo qual fora até alí, acercou-se mais da moça. Com voz melíflua, pôs-se a confortá-la e a pedir, com instância, que não chorasse. Palavra puxa palavra, até que ele chegou ao ponto de poder evidenciar à moça o seu desejo. A jovem, que não era construída de ferro nem de diamante, atendeu, muito cômoda e amavelmente aos prazeres do abade. O padre abraçou-a, beijou-a muitas vezes, seguidamente, atirou-se com ela na cama do monge . Seja por enorme consideração , ou ao venerável peso de sua própria dignidade, ou pela idade tenra da jovem—seja, então por recear causar-lhe mal, pelo seu excessivo peso—, o abade não se pôs sobre o peito da moça antes colocou-a sobre o seu próprio peito. E, durante muito tempo, entreteve-se com ela.

O monge, que havia fingido ir ao bosque, mas que, na verdade, escondera-se na ala dos dormitórios, viu quando o abade entrou em sua cela. Assim, completamente tranqüilo, compreendeu que seu plano dera resultado, ao perceber que o abade trancara a porta por dentro, teve, sobre isso, absoluta certeza. Deixando o seu esconderijo, silenciosamente foi até um orifício, através do qual viu e ouviu o que o abade fez e disse.

Quando pareceu ao abade que já se demorara o bastante em companhia da jovem, deixou-a trancada na cela, e retornou ao seu quarto. Passado algum tempo, ouvindo que o monge chegava, e pensando que ele regressasse do bosque, decidiu censurá-lo e mandar que o prendessem no cárcere; assim procedendo, pretendia ficar sozinho na posse da presa conquistada. Ordenou, portanto, que o monge viesse a sua presença com o rosto severo, e graves palavras, censurou-o, mandando que fosse conduzido ao cárcere. O monge, sem nenhuma hesitação, retrucou:

—Senhor abade, não estou, ainda, há tempo bastante na Ordem de São Bento para conhecer todas as singularidades de sua disciplina. O senhor não me mostrara ainda que os monges precisam fazer-se mortificar pelas mulheres, assim como devem fazê-lo com jejuns e vigílias; agora , contudo, que o senhor acaba de mo demonstrar, prometo-lhe, se me conceder o perdão por esta vez, que nunca mais pecarei por esta forma; ao contrário, procederei sempre como vi o senhor fazer.

O abade, como homem astuto que era, reconheceu logo que o monge não só conseguira saber a seu respeito muito além do que o suposto, mas ainda ver quanto ele fizera. Por esta razão, o abade sentiu remorsos pela sua própria culpa; e ficou vexado de aplicar ao monge o castigo que ele, tanto quanto o seu subordinado, merecera. Deu-lhe o perdão, mas impôs-lhe silêncio sobre quanto vira. Depois, levaram ambos a moca para fora do mosteiro; e, depois, como é fácil de se presumir, inúmeras vezes a fizeram retornar ali.

Beniamino Gigli

Revoluções Inglesas

As Revoluções Inglesas (XVII)

Fatores Responsáveis

Necessidade de superação do Absolutismo.

Necessidade de superação do Mercantilismo.

Conflitos entre o parlamento e a monarquia sobre a questão dos tributos.

A Revolução Puritana

Derrubada do Rei Carlos I (Dinastia Stuart)

Implantação da República governada por Oliver Cromwell.

Atos de Navegação e Comércio (1651): indústria naval e domínio dos mares.

Revolução Gloriosa (1688/89)

Anarquia militar após a morte de Cromwell.

Restauração monárquica - Tudors - retorno do absolutismo.

Jaime II - ameaça católica.

Conflitos com o parlamento - questão tributária.

Os Significados da Revolução:

Aplicação do liberalismo: Declaração dos Direitos (Bill Of Rights)

Parlamentarismo.

Liberdade.

Igualdade perante a lei.

Propriedade.

Maquiavel

Da crueldade e da piedade - se é melhor ser amado ou ser temido

Continuando na exposição das qualidades acima referidas, tenho a dizer que cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel: apesar disso, deve cuidar de empregar convenientemente essa piedade. César Bórgia era considerado cruel, e, contudo, sua crueldade havia reerguido a Romanha e conseguido uni-la e conduzi-la à paz e à fé. O que, bem considerado, mostrará que ele foi muito mais piedoso do que o povo florentino, o qual, para evitar a pecha de cruel, deixou que Pistóia fosse destruída. Não deve, portanto, importar ao príncipe a qualificação de cruel para manter os seus súditos unidos e com fé, porque, com raras exceções, é ele mais piedoso do que aqueles que por muita clemência deixam acontecer desordens, das quais podem nascer assassínios ou rapinagem. É que estas conseqüências prejudicam todo um povo, e as execuções que provêm do príncipe ofendem apenas um indivíduo (...)

Não deve ser, portanto, crédulo o príncipe, nem precipitado, e não deve amedrontar-se a si próprio, e proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança demasiada não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável.

Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que se desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas. É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizeres bem, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, como disse acima, desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas, quando ela se avizinha, voltam-se para outra parte. E o príncipe, se confiou plenamente em palavras e não tomou outras precauções, está arruinado. Pois as amizades conquistadas por interesse, e não por grandeza e nobreza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário. E os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos, é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca. Deve, portanto, o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado, o que sucederá uma vez que se abstenha de se apoderar dos bens e das mulheres dos seus cidadãos e dos seus súditos, e, mesmo sendo obrigado a derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo quando houver justificativa conveniente e causa manifesta. Deve, sobretudo, abster-se de se aproveitar dos bens dos outros, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda de seu patrimônio. Além disso, não faltam nunca ocasiões para pilhar o que é dos outros, e aquele que começa a viver de rapinagem sempre as encontra, o que já não sucede quanto às ocasiões de derramar sangue (...)

Concluo, pois (voltando ao assunto sobre se é melhor ser temido ou amado), que um príncipe sábio, amando os homens como eles querem e sendo por eles temido como ele quer, deve basear-se sobre o que é seu e não sobre o que é dos outros. Enfim, deve somente procurar evitar ser odiado, como foi dito. (Maquiavel – O Príncipe)

Sapo Absoluto


Poder Absoluto

O Absolutismo – O Rei Personifica o Poder

"É exclusivamente na minha pessoa que reside o poder soberano... é só de mim que os meus tribunais recebem a sua existência e a sua autoridade; a plenitude dessa autoridade, que eles não exercem senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o seu uso não pode nunca ser voltado contra mim; é a mim unicamente que pertence o poder legislativo sem dependência e sem partilha... a ordem pública inteira emana de mim, e os direitos e interesses da Nação, de que se ousa fazer um corpo separado do Monarca, estão necessariamente unidos com os meus e repousam unicamente nas minhas mãos."

(FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. v. 111. Lisboa, Plátano, 1976. p. 22.)

Maquiavel

Saiba-se que existem dois modos de combater: um com as leis, outro com a força. o primeiro é próprio do homem, o segundo dos animais. Não sendo, porém, muitas vezes suficiente o primeiro, convém recorrer ao segundo. Por conseguinte, a um príncipe é mister saber comportar-se como homem e como animal (...)

Tendo, portanto, necessidade de proceder como animal, deve um príncipe adotar a índole ao mesmo tempo do leão e da raposa; porque o leão não sabe fugir das armadilhas e a raposa não sabe defender-se dos lobos. Assim, cumpre ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para amedrontar os lobos.

Quem se contenta de ser leão demonstra não conhecer o assunto.Um príncipe sábio não pode, pois, nem deve manter-se fiel às suas promessas quando, extinta a causa que o levou a fazê-las, o cumprimento delas Ihe traz prejuízo Este preceito não seria bom se os homens fossem todos bons. Como, porém, são maus e, por isso mesmo, faltariam à palavra que acaso nos dessem, nada impede venhamos nós a faltar também à nossa. (...)Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem ter qualquer outra coisa como prática a não ser a guerra, o seu regulamento e sua disciplina, porque essa e a única arte que se espera de quem comanda. É ela de tanto poder que não só mantém aqueles que nasceram príncipes, mas muitas vezes faz com que cidadãos de condição particular ascendam àquela qualidade.

Ao contrário, vê-se que perderam os seus Estados os príncipes que se preocuparam mais com os luxos da vida do que com as armas. A primeira causa que te fará perder o governo é descurar desta arte e a razão de poderes conquistá-lo é o professá-la. (Os deveres do príncipe para com sua tropa).

(Unicamp) Sobre o governo dos príncipes, Nicolau Maquiavel, um pensador italiano do século XVI, afirmou:

O príncipe não precisa ser piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso, bastando que aparente possuir tais qualidades.(...) Um príncipe não pode observar todas as coisas a que são obrigados os homens considerados bons, sendo freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião (...). O príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas deve estar pronto a fazer o mal, se necessário. (Adaptado de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, em Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1996, pp. 102-103)

A partir do texto, responda

a) Qual o maior dever do príncipe?

b) Como o príncipe deveria governar para ter êxito?

c) De que maneira as idéias de Maquiavel se opunham à moral cristã medieval?

(Unicamp) Leia os comentários abaixo sobre o poder dos reis em dois períodos históricos distintos:

Durante os séculos XI e XII acreditava-se que os reis de França e da Inglaterra fossem capazes de fazer milagres e curar doenças. A conquista deste poder milagroso contribuiu para a afirmação do poder monárquico, ameaçado pelos grandes senhores feudais. (Adaptado de J. Le Goff, Prefácio a M. Bloch, Os Reis Taumaturgos, São Paulo, Cia. das Letras, p. 21)

Entre o fim da década de 1870 e o ano de 1914, ocorreu uma mudança fundamental na imagem pública da monarquia britânica, na medida em que seu ritual, até então inadequado, particular e pouco atraente, tornou-se suntuoso, público e popular. Até certo ponto isto foi facilitado pelo fato de que os monarcas estavam pouco a pouco se afastando da atividade política. (Eric Hobsbawm e Terence Ranger, A Invenção das Tradições, Paz e Terra, pp. 130-131) A partir desses dois comentários, responda:

a) Que poderes se contrapunham à autoridade dos reis em cada um desses períodos históricos?

b) Que artifícios os reis utilizaram para afirmar a sua autoridade em cada um desses períodos?

ABSOLUTISMO NA FRANÇA

Séc. XVI - Guerra Civil: Bourbon (Huguenotes - Calvinistas) X Guisé (Católicos)

Casamento: Henrique de Navarra com Margarida (Margot)

24 de Agosto de 1572 - Noite de São Bartolomeu - Massacre Huguenote

1589 - Henrique de Navarra assume o poder: Conversão ao catolicismo: “Paris bem vale uma missa”

Édito de Nantes - concede liberdade de culto aos protestantes.

1610 - Luis XIII - Governo Richelieu - combate aos protestantes; judeus e católicos.

1642 - Luis XIV - “L’État c’est moi” - Rei Sol - Apogeu do Absolutismo

Colbert: Mercantilismo - industrialização e conquista de colônias na América

Teve apoio da nobreza através da construção do Palácio de Versalhes.

A Etiqueta No Antigo Regime

A etiqueta não se reduz a mero repertório do que devemos ou não fazer. É preciso que os gestos e palavras considerados belos adquiram um sentido cerimonioso, tomem forma de um ritual quase religioso. É preciso que as boas maneiras, esta redução da ética a uma estética, do bom ao belo, se enraízem numa política: que a conduta valorizada seja um sacrifício prestado ao senhor, a um príncipe que governa não só o Estado como os atos dos seus membros de maior destaque... O homem da etiqueta não é apenas uma pessoa bem-educada. É alguém que expressa seus costumes de modo a tributar e obter prestígio. As maneiras servem à circulação, à atribuição do respeito; permitem valorizar os poderosos, venerá-los; a etiqueta só se compreende a partir de uma estratégia política.

(Renato Janine Ribeiro - A Etiqueta no Antigo Regime)

Algumas Teses Luteranas

Teses Luteranas


1. Dizendo ‘Fazei penitência...’, nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fieis seja uma penitência.

2. 0 papa não quer, nem pode, perdoar alguma pena, exceto aquelas que ele tenha imposto por sua própria vontade...

20. 0 papa, quando fala de remissão plena de todas as penas, não as compreende todas mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21. Erram, pois, os pregadores das indulgências que dizem que, pelas indulgências do papa, o homem fica livre de toda a pena e fica salvo.

27. Pregam doutrina puramente humana (não divina) os que dizem ‘logo que o dinheiro cai na caixa a alma se liberta (do Purgatório)’.

28. E certo que, desde que a moeda cai na caixa, o ganho e a cupidez podem ser aumentados; mas a intercessão da Igreja só depende da vontade de Deus.

32. Serão condenados para toda a eternidade, com os seus mestres, aqueles que crêem estar seguros da sua salvação por cartas de indulgências.

43. É preciso ensinar aos cristãos que aquele que dá aos pobres, ou empresta a quem esta necessitado, fez melhor do que se comprasse indulgências."

( LUTERO, Martinho. Obras. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos).

Reforma Popular

PECADO E INFERNO
(In: Hill, Christopher.
O Mundo de Ponta-Cabeça: As Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, Cia das Letras, 1987)

O pecado e a transgressão terminaram ... Por isso deveis pôr fim a perversão tão horrível, infernal, impudente e arrogante como essa de julgar o que é pecado e o que não é.

Abiezer Coppe, A Fiery Flying Roll (Folhas de fogo aladas). Parte 1 (1649), p. 7.

1- PECADO E SOCIEDADE

Na maior parte das religiões e dos povos encontramos alguma lenda análoga à do Jardim do Éden, da Arcádia ou da Idade de Ouro. No passado houve um estado de felicidade e inocência, porém ele se perdeu, e hoje a humanidade está à mercê de um fado que não tem como controlar. O homem é fundamentalmente pecador e sua reconciliação com Deus, a despeito dos sacramentos que existam para tanto, jamais poderá completar‑se neste mundo. Devemos esperar a nossa felicidade para depois desta vida. Todas as grandes religiões em seu estado primitivo concebem a outra vida como um reflexo da sociedade deste mundo: um pequeno punhado vive na beatitude, ao passo que a enorme maioria sofre tormentos ‑ embora se possa esperar que depois da morte os interessados troquem de posição. Alguns movimentos heréticos reclamaram a salvação para todos os homens, ou, pelo menos, para todos os que fizessem parte de uma determinada comunidade; essa concepção, porém, jamais logrou aceitação por nenhuma Igreja oficial, pelo menos enquanto esta conservasse sua posição institucional, o que, no caso da Europa, quer dizer até bem depois da Reforma.

Numa sociedade agrária marcada pela desigualdade, na qual se usava uma teologia primitiva e os homens, à mercê da natureza, morriam à míngua se a colheita fosse pior do que se esperava, na qual pestes e guerras faziam a vida incerta, era fácil considerar a fome e as epidemias como castigos divinos infligidos à maldade humana. Enquanto as técnicas não se desenvolveram a um nível que permitisse libertar os homens da natureza, eles estiveram dispostos a aceitar a sua impotência perante um Deus que era tão imprevisível quanto o clima. O pecado, assim como a miséria e a inferioridade social, era hereditário. A magia, enquanto um sistema alternativo que tentava controlar a natureza, ainda desempenhava um papel importante na vida das pessoas comuns e era utilizada pelos sacerdotes que efetuavam o milagre da missa. Era fácil inculcar, em homens tão cônscios de sua impotência e frustração, o sentimento de que eram pecadores. E, por serem pecadores, era fácil desencorajá‑los de qualquer tentativa para remediar a sua situação. Se se confessassem a um padre e pagassem as taxas adequadas, seriam absolvidos e libertos de seus pecados ‑ até a próxima vez.

A Igreja medieval havia desenvolvido um sistema eficaz de controle social, para o que muito contribuiu a útil invenção do purgatório.' Mas ela superou a si mesma na venda das indulgências, ou seja, a remissão das penas aplicáveis ao pecado em troca de dinheiro vivo. Pois essa comercialização da salvação foi considerada abusiva por aqueles que, graças ao controle de tecnologias mais avançadas, e portanto também a um relativo enriquecimento, estavam adquirindo maior confiança em sua capacidade para pensar e agir por conta própria ‑ mercadores e artesãos, em especial. Não há dúvida de que foi a riqueza desses homens que inspirou a Igreja a deslanchar a venda de indulgências; mas foram eles que formaram parte considerável do apoio popular de Lutero quando este se rebelou contra tal prática.

No protestantismo, o senso do pecado foi interiorizado. Descartaram‑se os mediadores sacerdotais entre o homem e Deus, porque cada fiel tinha um sacerdote já na sua própria consciência: a penitência e a absolvição externas foram substituídas pela penitência interna. Isso libertou alguns homens dos terrores do pecado. Os eleitos eram os que sentiam dentro de si o poder de Deus. Deus falava diretamente às suas consciências, sem passar pela mediação de sacerdotes ou sacramentos. A doutrina luterana do sacerdócio de todos os fiéis destruiu a velha moldura hierárquica da Igreja e colocou o homem diretamente na presença de Deus. O protestantismo enfatiza que alguns homens estão predestinados à salvação, outros à danação. Mas será um erro acentuar apenas esse aspecto predestinacionista do protestantismo: a importância deste, do ponto de vista prático da vida em sociedade, reside em ser uma doutrina da liberdade dos eleitos, que pela graça divina são distinguidos em meio à massa da humanidade. Assim como os animais e o conjunto da criação inanimada, também a maior parte dos homens está submetida às forças da natureza e da sociedade ‑à fome, à pestilência, à morte. Mais ainda, é impotente perante essas forças. Essa maioria dos homens está mergulhada no pecado. Somente os eleitos são livres, pois a seus olhos as forças que governam este mundo não podem ser cegas. Os eleitos compreendem os propósitos de Deus e colaboram com eles, e essa convicção de uma intimidade com o governante do universo dá‑Lhes uma tal confiança, uma certeza interna, que pode capacitá‑los a prosperar neste mundo tanto quanto a conquistar o Reino dos Céus.

Não têm eles, é claro, a autoconfiança exagerada e insensível que se chama fatalismo: sempre lhes restam tensões e dúvidas. Apenas Deus conhece os seus eleitos. O que é libertação para um homem pode ser desespero para outro.' Mas essas próprias tensões, em circunstâncias apropriadas, podem gerar uma grande energia moral, uma determinação da pessoa a enfrentar as provações. A teoria da justificação pela fé ajudou os homens a viverem devido à esperança interna que ela lhes dava. É uma teoria relativamente democrática: os eleitos compõem uma aristocracia espiritual que não tem qualquer relação com a aristocracia mundana por nascimento. Essa teoria proporcionou, a uma elite desse terceiro estado carente de privilégios, a coragem, a convicção e a solidariedade necessárias para conquistar liberdade religiosa e política, graças a uma organização rigidamente disciplinada. É óbvio que apenas uma elite poderia ter a posição econômica, a educação, o tempo livre necessários para conseguir dominar essa teologia; apenas uma minoria pode ser livre ‑ apenas uma minoria será eleita. O que reforça a convicção dos eleitos de não se confundirem com o restante do Terceiro Estado, despido de privilégios, assim como com a classe dirigente desprovida de Deus, é a consciência nítida que têm eles de que a sua percepção da graça divina é tudo o que os distingue. É o que os faz humanos, diferenciando‑os dos animais e dos homens que Deus não regenerou. Isso implica, portanto, uma modificação completa dos valores: pois foi por falta de humildade que pecaram Lúcifer e Prometeu. E Tawnev referia‑se especialmente ao calvinismo quando falava no "paradoxo que se situa no centro da ética religiosa ‑ o fato de que somente possuem os nervos e a coragem necessários para virar o mundo de cabeça para baixo aqueles que estão convencidos de que, num plano mais elevado, tudo já foi disposto da melhor forma por um Poder do qual eles não passam de humildes instrumentos".

No período de que tratamos, a experiência espiritual de conversão representava uma ruptura do homem com a sua vida anterior e a possibilidade de aceder a uma nova vida, marcada pela liberdade. Libertava‑se do fardo que portava nos ombros, e adquiria um senso de dignidade e de confiança em si mesmo enquanto indivíduo. Thomas Hooker bem exprimiu isso nas seguintes palavras: "A verdadeira contrição, esta que sentimos quando o coração se parte, introduz uma estranha e súbita alteração no mundo, modifica o preço e o valor das coisas e pessoas mais do que se pode imaginar, vira o mundo de cabeça para baixo, faz as coisas aparecerem tais como são". "Estes julgam não pela aparência externa, como procedem os homens que têm a mente corrupta, porém por sua experiência, que encontraram e sentiram em seus próprios corações."° Essa força que os conversos sentiam também se devia ao fato de se perceberem em união íntima com uma comunidade de pessoas que compartilhavam as mesmas idéias; muitas vezes já se assinalou o espírito "coletivista" que caracterizava o calvinismo em seus primórdios. O mesmo senso de uma comunhão de interesses e crenças inspirou as primeiras congregações separatistas

Esse duplo sentimento de força ‑ graças à autoconfiança individual e à unidade com um coletivo ‑ produziu a notável liberação de energia que tão bem caracteriza o calvinismo e as seitas durante o período que estamos analisando. Os homens sentiam‑se livres: livres do inferno, livres dos pastores, livres do medo às autoridades seculares, livres das forças cegas da natureza, livres, ainda, da magia. Tal liberdade bem podia ser ilusória ‑ o resultado de um processo psicológico de auto‑engano. Ou poderia corresponder a elementos da realidade externa, na medida em que era lógico ser ela sentida por homens que eram independentes do ponto de vista econômico. Porém até mesmo uma liberdade ilusória poderia conferir a um homem força para conquistar autêntica liberdade, assim como a magia mimética ajudava o homem primitivo a fazer crescer o que ele plantava.

Contudo, a conversão em si mesma, o salto de um mundo no qual se tem consciência da necessidade para outro em que a consciência é da liberdade, devia forçosamente ocorrer como algo arbitrário e externo. É tão absurdo querer ascender ao estado de graça quanto desejar subir de classe social. A conversão vinha da intervenção de Deus num universo estático - era o milagre sem o qual o indivíduo não saía da massa inerte dos reprovados, sem o qual era impossível alcançar a liberdade.

O protestantismo, conforme afirmou um observador arguto, conservou o pecado medieval sem o seguro que a Idade Média tinha contra ele: a confissão e a absolvição. Os homens emanciparam-se dos padres, porém não dos terrores do pecado, ou do padre interiorizado em suas consciências.' Apenas personalidades muito fortes, ou de muita sorte, podiam suportar essa provação. Na sua forma pura, tratava-se de uma doutrina mais adequada para as condições de luta em período de crise do que para a vida normal numa sociedade estável. E havia, ainda, o problema do controle social. As doutrinas protestantes insistiam na distinção entre os eleitos e a massa dos homens que Deus não regenerou. A confissão e a absolvição tinham sido abolidas porque os eleitos eram padres de si mesmos; além disso, a mediação dos padres nada poderia fazer de bom pelos que viviam no pecado. Mas então o que iria acontecer a essa maioria de pecadores de que se compunha a sociedade? As conseqüências sociais da Queda viam-se assinaladas com muito vigor.

Se a Queda de Adão não tivesse introduzido o pecado no mundo, os homens teriam sido iguais, e a propriedade seria coletiva. Porém, desde o pecado original, a cupidez, a arrogância, a cólera e todos os outros pecados foram transmitidos à sua posteridade. A massa da humanidade encontra-se, irremediavelmente, condenada: só uma pequena minoria está predestinada à vida eterna. Um Estado que age pela coerção é uma das conseqüências da Queda, sendo ele necessário para impedir os pecadores de se destruírem uns aos outros. A propriedade privada é outra conseqüência do pecado; mas, já que é inevitável ela existir, deve ser defendida contra o apetite voraz dos não-proprietários, os quais têm de ser mantidos subordinados. Assim, o Estado Tudor assumiu muitas das funções que antes, nos tempos medievais, incumbiam à Igreja. Contudo, essas doutrinas tradicionais não estiveram ao abrigo de toda contestação. Assim é que os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana se fundamentam, e muito, no pecado original para defender a propriedade e a autoridade dos magistrados contra os anabatistas.

Enquanto se manteve a unidade da Igreja e do Estado, a Queda do Homem foi um fator essencial na política. Pois, se o indivíduo puder opor a sua consciência ao sacerdote e à Igreja, pelo mesmo padrão ele pode opô-la ao governo que mantém associação tão íntima com a Igreja. Lutem afirmara: os ímpios que ignoram o Evangelho buscam apenas uma liberdade carnal e assim se tornam ainda piores do que eram; por isso não é do Evangelho, é da Lei que eles dependem ... O Evangelho é como uma brisa fresca, suave e refrescante em meio à canícula estival, quer dizer, é conforto e consolo para a angústia da consciência. Mas ... aterrorizar a consciência incumbe à pregação da Lei, com o fim de que possamos saber que pecamos contra as Leis de Deus.

Vemos assim que existem dois padrões distintos para o ensinamento da religião: o Evangelho para os justos, a Lei para os ímpios; e, para o Lutem dos últimos anos, "a multidão" era o mesmo que os ímpios. Esse dualismo era ainda mais necessário porque o protestantismo do século XVI, num certo sentido, constituía um credo revolucionário. "Este é o meu credo, com a proteção de Deus, eu não poderia ter outro credo." Pouco importa que Lutem tenha ou não pronunciado essas palavras - elas bem expressam o espírito que animava os seus atos. Ele e os que compartilhavam das suas convicções prefeririam lutar ou sofrer até a morte a submeter-se à tirania do papa ou a um poder secular papista. Contudo, o protestantismo não era um credo democrático. Proclamou a liberdade cristã - quer dizer, liberdade para os eleitos. E Calvino transformou o dualismo num sistema que, por um lado, revelou-se uma máquina de guerra mais eficaz que a luterana e, por outro, um regime no qual as ordens inferiores se viam submetidas a uma disciplina mais rigorosa. Salomão, segundo Calvino, "exorta os pobres a suportarem pacientemente as dificuldades, pois os que estão descontentes com a sua parte procuram livrar-se de um fardo que foi Deus quem lhes impôs". Esse fardo foi-lhes imposto em conseqüência dos seus pecados. A própria escravidão, dizia o calvinista William Perkins. "é contrária à lei da completa natureza tal como vigia antes da Queda; porém não é contra a lei da natureza corrompida posterior à Queda".9 Os justos, ensinara Calvino, podem recorrer à "ajuda do magistrado para a preservação de seus bens, ou, de zelo pelo interesse público, ... pedir que seja castigado o homem perverso e pestilento, a quem, bem sabem eles, nada poderá corrigir a não ser a morte".

Esses lugares-comuns exprimiam a opinião de todos, exceto a dos protestantes mais radicais. Richard Hooker aceitava-os, assim como os calvinistas." Os presbiterianos ingleses e escoceses anteciparam Hobbes, ensinando que a função do governo civil consiste em conter a depravação que pertence à natureza humana. Henry Parker, aliado dos presbiterianos em política e precursor, no plano teórico, de Hobbes, escreveu em 1642 que "o homem, devido à depravação ocasionada pela Queda de Adão, tornou-se criatura tão selvagem e tão grosseira que a lei de Deus, embora gravada em seu peito, já não bastava para impedi-lo de delinqüir, ou para fazer dele um ser sociável". O seu inimigo, sir Robert Filmer, afirmava que "para supor que exista uma liberdade natural da humanidade seria preciso negar a criação de Adão", e por conseguinte "introduzir o ateísmo"; pois na verdade, alegava Filmer, o poder político existia já antes da Queda do Homem." A maneira de expressar essa idéia podia variar, porém ninguém negava a depravação da multidão até o dia em que esta começou a falar por si mesma, e com isso deixou os proprietários ainda mais convencidos de quanto era necessário reprimi-Ia. A lei protege a propriedade, declarou John Pym em 1641: "Se suprimirdes a lei, todas as coisas decairão em grande confusão e cada homem fará sua própria lei, o que na condição depravada da natureza humana deve necessariamente engendrar terríveis enormidades".

Para o conservador, para o proprietário, o pecado original e a Queda do Homem eram coisa que não podia ser desfeita; seus efeitos sobre a natureza humana eram irreversíveis. Tentar ignorar a condição pecaminosa do homem era o mesmo que desconhecer a realidade dos fatos. O conservador considerava o mal como algo interno, latejando no coração de cada indivíduo - não como um produto externo, de origem social. O pecado era uma característica hereditária, transmitida pelo ato sexual. A idéia de que é justo as gerações expiarem os pecados de seus pais e ancestrais pertence ao mesmo complexo primitivo de idéias que produziu a lei da rixa do sangue e está perfeitamente adaptada a uma sociedade que se fundamenta numa hierarquia de nascimento.

Um quadro mental como esse tornava possível o postulado, a nossos olhos tão estranho, de que os herdeiros estão comprometidos por toda a eternidade pelos contratos que firmaram com os seus mais remotos antepassados - idéia essa formulada pelos primeiros teóricos políticos modernos. Sir John Davis justificava os atos de Deus aos olhos dos homens comparando-os com o fato de que, quando se deserda um filho indigno, também se está castigando a sua posteridade (presumidamente) inocente; citava também como outro paralelo válido os privilégios que uma corporação conquistara no passado e permaneciam em vigor." O pecado hereditário era a necessária contrapartida da monarquia hereditária de direito divino. A salvação não dependia do mérito - doutrina diabólica, essa. Os homens somente deviam sua redenção à virtude e justiça atribuída a Cristo, que descartava todos os demais mediadores. Tais argumentos, porém, tinham dois gumes: os levellers, entre outros, afirmavam que todos os ingleses nascidos livres possuíam um direito de nascença, que haviam herdado de seus ancestrais anglo-saxões, do qual seria injusto privá-los.

Numa sociedade na qual a idéia de contrato adquiria crescente importância, em detrimento da noção de estatuto social, uma tal ênfase na herança - como a que encontramos na teoria política de Filmer - começava a parecer antiquada. Hobbes e Locke utilizaram o contrato social como uma moldura conceitual, porém as suas teses em nada dependem de ter ele algum dia existido enquanto fato histórico. No começo do século XVII, a teologia puritana reagiu às novas circunstâncias sociais elaborando a teologia da aliança (covenant), que foi assim definida por Perkins e seus sucessores: Deus contratou a salvação de seus eleitos com estes mesmos, seguindo todas as formalidades mais legalistas. Disso decorreu um resultado muito curioso. Na teologia da aliança, Adão (e Cristo) tornavam-se figuras representativas, que sintetizavam todos os aspectos da condição humana - tornavam-se, pois, pessoas públicas. Se sofremos não é mais na qualidade de herdeiros de Adão, mas sim porque Adão nos representou. Por outro lado, a virtude atribuída a Cristo não chega a nós completamente de fora - foi conquistada, para nós, por nosso representante." Essas inovações abriam perspectivas mais amplas do que imaginavam os próprios teólogos da aliança; William Erbery assim não tardaria a sugerir que o Exército de Novo Tipo era O Exército de Deus, lutando como uma pessoa pública e não em defesa de algum interesse particular".

Na Inglaterra dos Tudor, o problema de como efetuar o controle social foi resolvido pelo expediente de manter os tribunais eclesiásticos encarregados da punição do "pecado". Os protestantes radicais, porém, denunciavam-nos como meros instrumentos para a arrecadação de multas. No interior do clero a ala presbiteriana almejava simplesmente extingui-los, substituindo-os por um sistema disciplinar que daria poder bem maior aos presbitérios. Mas a derrota do movimento presbiteriano no seio da Igreja Anglicana, durante a década de 1590, causou novos problemas. O clero puritano aumentou a ênfase na predicação, na conduta moral, na formação de um corpo de leigos com sólida formação doutrinária. A medida que crescia a influência arminiana nos governos Stuart, os puritanos passavam a considerar mais e mais importante a consolidação de um forte partido seu junto aos leigos. A medida que a Igreja retornava a uma liturgia centrada nos sacramentos, iam os puritanos adquirindo o apoio de muitos leigos que se juntavam a eles por serem anticlericais, mais do que por motivos propriamente teológicos; pois esses leigos, nos anos 1640, vieram a sentir o clericalismo presbiteriano como tão detestável quanto o arminiana. A prazo mais curto, porém, a aliança teve sua solidez.

É claro que havia uma contradição inerente ao fato de se combinar uma teologia que enfatizava estar a salvação reservada a uma minoria, com uma pregação moral destinada a atingir todos os homens. Todos os ortodoxos concordariam com o que disse William Crashaw: "A parte maior é geralmente a pior". 19 Em 1632 Thomas Hooker podia "dizer, por experiência, que é inacreditável a ignorância que encontramos junto à gente mais mesquinha". Esse problema Perkins e outros teólogos puritanos resolveram, ensinando que Deus aceitaria a intenção em lugar do ato: embora nossos esforços jamais sejam suficientes para nos salvar, pode-se entender que um desejo fervoroso de ser salvo constitua um fortíssimo indício de que o indivíduo em questão conta entre os eleitos. "O Senhor aceita que a afeição e o esforço valham pela coisa realizada. ”Quem deseja ser justo é justo", afirmou John Downame; "quem quer arrepender-se é porque já se arrepende ... Um espírito de boa vontade será aceito". Em 1641, sir Simonds D'Ewes afirmava que "o desejo de ter a certeza da salvação e o receio de não a ter" constituem a prova de que "a salvação é certa. Ou seja: quem quer que considerasse a sério o problema de sua salvação teria razões para confiar em que estaria salvo. A elite eram os eleitos.

Quando começou a guerra civil, o apelo às massas teve de se tornar ainda mais direto, ainda menos discriminatório. Eram bem-vindos todos que se dispusessem a lutar contra o Anticristo. Não sabemos até que ponto os pregadores se permitiram ter consciência da profunda contradição em que assim se envolviam. Muitos deles convocaram a gente comum do povo a intervir na ação política, difundindo expectativas militaristas, especialmente entre os mais pobres e simples. Contudo, do ponto de vista lógico, nenhum calvinista poderia ter confiança alguma na democracia: sua religião destinava-se aos eleitos, por definição minoritários. Thomas Goodwin, embora fosse um dos que apelaram "à multidão vulgar", sabia apesar disso que constituía "um sinal irrefutável de pertencer à condição dos não-regenerados deixar-se arrastar pela torrente e moldar pelos mesmos princípios que a grande maioria dos homens". Apelar às massas ímpias para combater o Anticristo talvez não fosse mais ilógico do que apelar, para a reforma da Igreja, a um duque de Northumberland ou de Buckingham, a um conde de Leicester ou de Essex.

Mas era mais perigoso. Tudo dependeria de o clero conseguir manter o controle da situação - vale dizer, de conservar o apoio daqueles segmentos da população leiga cuja influência contava na política. Ora, se já tinham dificuldades em bom número com os erastianos membros do Longo Parlamento, com a ascensão do Exército de Novo Tipo viriam a perder por completo o controle do poder.

Enquanto o campo de discussão esteve delimitado por uma Igreja estatal que funcionava, um sistema de clientela e uma censura que também eram eficazes, o clero e seus aliados parlamentares nada tiveram a temer. Porém, assim que esses protetores faliram, assim que o povo comum provou das delícias proibidas da liberdade, o que iria acontecer? Certamente o povo não aceitaria de bom grado a instauração de um sistema disciplinar rigoroso, aplicando um código moral severo - não aceitaria trocar os açoites episcopais pelas varas espinhosas presbiterianas. Os tribunais eclesiásticos, nos anos que precederam 1640, exasperavam o povo, mas isso era temperado por sua ineficiência e relaxamento. Quem era pobre demais para valer a pena ser multado normalmente escapava do seu jugo. Mas a disciplina presbiteriana era coisa nova e diferente: levar-se-ia a sério a imposição, à multidão ímpia, de um código de conduta moral. Essa perspectiva deve não apenas ter reforçado o anticlericalismo em meio às classes inferiores, como também ter estimulado os antinomistas na sua disposição de recusar a servidão da lei moral, que os ranters iriam radicalizar a ponto de rejeitar todas as restrições morais tradicionais." Os ministros presbiterianos, por seu lado, certamente levariam a coragem de suas convicções até a perseguição, da mesma forma que a maioria dos membros do Longo Parlamento, ou melhor, de qualquer Câmara dos Comuns eleita com base num sufrágio censitário, seja em 1640, 1654, 1656, 1660 ou 1661. Mas, a partir de 1647, foi em mãos do Exército e não do Parlamento, menos ainda do clero presbiteriano, que esteve o poder decisório.

Os protestantes radicais haviam esperado muito tempo para completar a Reforma que, consideravam eles, se detivera a meio caminho devido ao compromisso adotado no reinado de Isabel. Queriam suprimir os tribunais eclesiásticos e todos os vestígios da vigilância exercida pelo clero. O pecado deixaria de ser controlado por qualquer tribunal, fosse este temporal ou espiritual; passaria a ser problema íntimo de cada fiel. Na medida em que devesse continuar a haver alguma forma de controle social, este seria 'exercido sobre seus próprios membros democraticamente, por congregações de "eleitos" que se formariam de modo espontâneo. As penalidades infligidas, aliás, seriam puramente espirituais; o magistrado civil se encarregaria de conservar os ímpios dentro da ordem.

Mas é claro que as coisas não poderiam parar por aí, como a história do século XVI deveria haveria mostrado aos radicais que pertenciam ao clero. O protestantismo começou sob as feições de uma grande empresa de libertação do espírito humano. Contudo, menos de uma década depois de Lutero formular o seu protesto, deparou-se ele com uma revolta camponesa que contestava a propriedade e a submissão social, tais como Lutero as prezava, em seus próprios fundamentos; e na década seguinte os anabatistas de Münster se rebelaram contra toda a ordem social existente. A imprensa tornara possível o protestantismo porque facilitara a rápida difusão da teologia popular entre os alfabetizados, especialmente no meio urbano. Enquanto a Bíblia dos lolardos circulara em apenas algumas dezenas de cópias, o Novo Testamento de Tyndale foi difundido às centenas, e a Bíblia de Genebra aos milhares. Porém a imprensa também arruinou qualquer pretensão do protestantismo a constituir um credo homogêneo, porque a leitura de livros é bem mais difícil de se controlar do que a de manuscritos. Graças ao seu formato de bolso, a Bíblia de Genebra podia ser assimilada e interpretada individualmente. E, desde que as massas se viram chamadas à atividade política, quer isso acontecesse na Alemanha do século XVI ou na Inglaterra do XVII, era inevitável que alguns, pelo menos, exigissem o direito de alcançar a sua salvação pessoal. Os anabatistas alemães e holandeses fracassaram em seu intento de tomar o paraíso de assalto. Uma severa repressão devolveu-os à submissão, neste mundo e no outro. Além disso a sua aparição no cenário público constituiu, aos olhos de Lutero e de Calvino, prova suplementar da intrínseca impiedade da massa humana, devida à Queda. Lutero, que se tornara dependente dos príncipes temporais alemães, reagiu negando à consciência individual qualquer direito de criticar ou intervir na esfera do governo secular; Calvino, que tinha em mãos o governo de Genebra, enfatizou o quanto era necessário haver uma disciplina, um rígido código de conduta imposto de cima para baixo.

Quando, depois de se libertarem do controle eclesiástico tradicional, as pessoas comuns formaram suas próprias congregações no correr dos anos 1640, passaram elas a discutir à luz da Bíblia todos os aspectos da teologia e da política. Muitos proclamavam, como Milton, que os eleitos deveriam estar livres de tudo o que fosse restrição - até mesmo dos laços matrimoniais: deveriam sofrer coerção somente os que Deus não regenerou. Dessa forma o número e a identidade dos eleitos converteram-se numa questão política candente. Durante os debates travados em Putney sobre o direito de voto, esse ponto tinha relevância política imediata. Na medida em que os sectários saídos das classes inferiores foram se convencendo de que eram eles os eleitos, o antinomismo, alter ego do calvinismo das classes baixas, voltou a aparecer em cena. Em 1549 um lojista londrino havia afirmado que um regenerado seria incapaz de pecar. Muitos pensavam como ele, na Inglaterra dos anos 1640.

A Reforma Religiosa

Crítica de Erasmo de Roterdã ao clero Da Baixa Idade Média

"Rivais dignos dos príncipes, os soberanos pontífices, os cardeais e os bispos... Hoje... os bispos apenas - se preocupam em apascentar-se a si próprios, deixam o cuidado do rebanho a Cristo... esquecem que a palavra bispo significa trabalho, vigilância, solicitude. Servem-se apenas de tais qualidades quando pretendem recolher dinheiro... Se os Sumos Pontífices, que estão no lugar de Cristo, se esforçassem por imita-lo na pobreza, nos trabalhos, na sabedoria, no sofrimento e no desprezo pelas coisas terrenas... não seriam eles os mais infelizes de todos os homens? Quantas comodidades não perderiam, se um dia a sabedoria os penetrasse... Vede quantas riquezas, honras, troféus, ofícios, dispensas e impostos, indulgências, cavalos, mulas, guardas e prazeres... Ora, tudo deveria ser substituído pelos jejuns, vigílias, lágrimas, orações sermões estudos e penitências e mil outros incômodos enfadonhos" (Erasmo de Roterdã – O Elogio da Loucura).

A Justificação Pela Fé:

Assim vemos que a fé basta a um cristão. Ele não precisa de nenhuma obra, ele está certamente desobrigado de todos os mandamentos e de todas as leis; se está desobrigado deles certamente é livre. Esta é a liberdade cristã, é unicamente a fé que cria, o que não quer dizer que possamos ficar ociosos ou fazer mal, mas que não precisamos de nenhuma obra para justificar e alcançar a felicidade.

(Martinho Lutero)

A Predestinação:

Nós chamamos predestinação à decisão eterna de Deus pela qual determinou o que queria fazer com cada indivíduo. Pois ele os cria todos em condições semelhantes, mas ordena uns à vida eterna e outros à danação. Assim, conforme o fim para o qual o indivíduo foi criado, dizemos que ele está predestinado para a morte ou para a vida... Os que ele chama à salvação, dizemos que ele os recebe de sua misericórdia gratuita, sem ter relação alguma com a própria dignidade.

(Calvino)

A Inquisição:

"fizeram com que eu me deitasse sobre um cadafalso, de costas, onde, depois de terem me alongado com todas as suas forças, eles me prenderam por meio de uma guilhotina, que colocaram no meu pescoço, e de um anel de ferro em cada pé. Uma dessas extensões me causou dores terríveis, mas isso era apenas o princípio dos tormentos horrorosos que eles haviam resolvido me fazer sofrer. Eles me amarraram com esse objetivo usando oito cordas pequenas, duas em cada coxa. Essas cordas passavam por furos que existiam no cadafalso e, ao menor sinal que os bárbaros inquisidores deram, elas foram todas puxadas e apertadas ao mesmo tempo por quatro carrascos que estavam por baixo e que para isso usavam torniquetes. Para poder avaliar os sofrimentos que suportei nesse momento fatal, basta saber que as cordas, que eram feitas de um fio muito fino e cuja grossura era igual à do dedo mínimo, entravam nas carnes até os ossos e faziam jorrar sangue por oito lugares diferentes, por onde elas cortavam meus membros..."

(Unicamp) No século XIII, um teólogo assim condenava a prática da usura:

O usurário quer adquirir um lucro sem nenhum trabalho e até dormindo, o que vai contra a palavra de Deus que diz: ‘Comerás teu pão com o suor do teu rosto.’ Assim o usurário não vende a seu devedor nada que lhe pertença, mas apenas o tempo, que pertence a Deus. Disso não deve tirar nenhum proveito.” (Adaptado de J. Le Goff, A Bolsa e a Vida, Brasiliense, 1989)

a) O que é usura?

b) Por que a Igreja medieval condenava a usura?

c) Relacione a prática da usura com o desenvolvimento do capitalismo no final da Idade Média.

Renascença

Renascimento Cultural

Características:

Idade Média

Teocentrismo.

Misticismo.

Conformismo.

Contemplação.

Ascetismo.

Renascença

Antropocentrismo.

Humanismo.

Racionalismo.

Hedonismo.

Naturalismo.

Neoplatonismo.

Otimismo.

Humanismo:

“Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em forma e movimento; tão preciso e admirável; na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; é a beleza do mundo, o exemplo dos animais”.

(Shakespeare - Hamlet)


Neoplatonismo:

Beatriz voltou-me seus olhos tão plenos de ardor divino que ruiu a minha capacidade de olhar e quase perdi o domínio dos sentidos... Tão leda eu via a bem-aventurada Beatriz a penetrar as luzes daquele céu, que aos meus olhos mais esplendoroso pareceu o planeta. E imaginei, se o astro sorriu, transformando-se, como não me transformei eu, que, por natureza humana, estou sujeito a todos os câmbios.

(Dante - A Divina Comédia)

Racionalismo – Ciência:

Copérnico - Heliocentrismo.

Galileu - Lunetas - Heliocentrismo.

Kepler - Movto Elíptico dos Astros.

Falópio - Trompas femininas.

Newton - Gravitação Universal.

Itália: O Berço da Renascença.

Renascença Na Europa

Portugal ñ Camões e Gil Vicente.

Espanha ñ Cervantes - D. Quixote.

Inglaterra ñ Shakespeare e Thomas Morus.

França ñ Rabelais e Montaigne.

Países Baixos ñ Erasmo de Roterdã.

Aspectos Medievais

Aspectos da Era Medieval

  • Poder Descentralizado

“Como bem notou Georges Duby, o feudalismo é nada mais, nada menos que ‘o fracionamento da autoridade em múltiplas células autônomas. Em cada uma destas, um senhor detém o título privado o poder de comandar e punir; explora tal força como parte de seu patrimônio hereditário”.

  • A Organização Social

Os clérigos devem por todos orar

Os cavaleiros sem demora

Devem defender a honra

E os Camponeses sofrer.

Cavaleiros e clero sem falha

Vivem de quem trabalha

(Estevão de Fougères, clérigo do século XII)


  • A Ideologia


A casa de Deus, que cremos ser una, está, pois dividida em três: uns oram, outros combatem, e outros, enfim, trabalham. Os serviços prestados por uma das partes são a condição da obra das outras duas; e cada uma, por sua vez, que se encarrega de aliviar o todo. É assim que a lei tem podido triunfar e que o mundo tem podido gozar de paz (Bispo Adalbéron de Laon)

Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor (St. Laud de Angers)

  • As Mulheres

“Essa Idade Média é resolutamente masculina. Pois todos os relatos que chegam até mim e me informam vêm dos homens, convencidos da superioridade do seu sexo. Só as vozes deles chegam até mim. No entanto, eu os ouço falar antes de tudo de seu desejo e, consequentemente, das mulheres. Eles têm medo delas e, para se tranqüilizarem, eles as desprezam (Duby)

“A mulher é um animal que não é seguro nem estável, é odienta para tormento do marido, é cheia de maldade e é o principio de todas as demandas e disputas, via e caminho de todas as iniquidades” (Songe du Verger)

“Se a mulher é bonita, todos a desejam, e ela acabará sendo infiel; mas se não for bonita, precisará agradar muito mais e, do mesmo modo, trairá eventualmente. Se ela é sensata, está sujeita a sedução; mas se for desarrazoada ela se torna vítima” (Bloch)

  • Questões:

(FUVEST) O Feudalismo, que marcou a Europa Ocidental durante a Idade Média, resultou de duas heranças distintas, a romana e a germânica. Comente cada uma delas.

(FUVEST) Do ponto de vista político-religioso, como se explica a expansão islâmica a partir do século VII?

(UNICAMP) “A Igreja, durante a Idade Média, guiava todos os movimentos do homem, do batismo ao serviço fúnebre. A Igreja educava as crianças; o sermão do pároco era a principal fonte de informação sobre os acontecimentos e problemas comuns. A paróquia constituía uma importante unidade de governo local, coletando e distribuindo esmolas que os pobres recebiam. Como os homens ficavam atentos aos sermões, era freqüente o governo dizer aos pregadores exatamente o que deviam pregar”. (Adaptado de Christopher Hill. A Revolução Inglesa de 1640)

A partir do texto acima escreva quais eram as funções sociais e políticas da Igreja Católica na Idade Média.

(Unicamp) “Em 1128, após o incêndio da cidade de Deutz, o abade Ruppert, teólogo apegado às tradições, logo viu nesse fato a cólera de Deus, castigando o local que se tornara centro de trocas e antro de infames mercadores e artífices.” LE GOFF, Jacques, A Civilização do Ocidente Medieval. (Adaptação).

No texto acima estão algumas das principais características de uma cidade medieval. Indique e analise as características das cidades medievais.

(Unicamp) Segundo a definição de um historiador, “o cavaleiro na Idade Média é o membro da aristocracia feudal que se distingue pelo armamento, pelo gênero de vida (castelo, caça e guerra) e pela sua moral especial (fidelidade, liberdade). Os cavaleiros formam uma das três ordens da sociedade”.

Caracterize a hierarquia das três ordens da sociedade feudal

Vou Mas Volto....


A Crise Feudal

A Crise do Regime Feudal

Explosão Demográfica no Séc. X

Nobres - Falta de terras: cavalaria andante - torneios - violência familiar

Servos - Fome - marginalidade social - saques aos castelos

Papa Urbano II Conclama às Cruzadas

Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem impiedosamente contra os fiéis, lutarem agora contra os infiéis... Deixai os que até aqui foram ladrões, tornarem-se soldados. Deixai aqueles que outrora se bateram contra seus irmãos e parentes, lutarem agora contra os bárbaros como devem. Deixai os que foram mercenários a baixos salários receberem agora a recompensa eterna. Uma vez que a terra que vós habitais, fechada por todos os lados pelo mar e circundada por picos de montanhas, é demasiadamente pequena para vossa grande população: a sua riqueza não abunda, mal fornece o alimento necessário aos seus cultivadores... Tomai o caminho do Santo Sepulcro; arrebatai aquela terra à raça perversa e submetei-a a vós mesmos.

Motivações:

Retomada de Jerusalém;

Conquistas de novas terras;

Unificação da cristandade (Igreja Ortodoxa);

Redução da população.

Expulsão do Islamismo do Ocidente.

Pré-Cruzada - Cruzada dos Mendigos - fanatismo.

Primeira Cruzada: O cerco a Jerusalém - Violência.

Quarta Cruzada: dos comerciantes - tem seu percurso alterado para Constantinopla

Cruzada das Crianças.

Alguns Resultados:

Retomada do Mediterrâneo;

Renascimento Comercial;

Enfraquecimento do feudalismo e da Igreja Católica;

Surgimento da Burguesia;

Renascimento Urbano.

Rotas ] Feiras ] Cidades (Carta de Franquia)

Associações Urbanas:

Hansas (Associações Comerciais) ] Liga Hanseática (Norte da Europa - 90 cidades): estradas, moedas, feiras, policiamento, bancos.

Corporações de Ofícios (Guildas): proteção aos artesãos ] Evitavam a concorrência; preço justo; qualidade das mercadorias.

Aliança da Burguesia com o Rei:

a Exército Nacional

a Tributos Nacionais

a Justiça Nacional

a Sistema único de Pesos (Kg) e Medidas (metro)

a Moeda única.

França: Rei mais importante:

Filipe IV - O Belo -

Tributou as terras da Igreja

Foi excomungado

Fez o Papa Bonifácio VIII prisioneiro

Cisma do Ocidente - 2 Papas: Vaticano / Avignon (França).

Inglaterra: Guerra Civil (séc. XIII)

Rei João Sem-Terra (burguesia) X Nobreza (Igreja Católica)

O rei é derrotado e obrigado a aceitar a CARTA MAGNA

Criação do Parlamento (nobreza) º controle sobre o rei.

Cem Anos de Guerras:

Política: disputa pelo trono francês;

Econômica: pretensão inglesa de controlar Flandres (Norte da França desenvolvido comercialmente).

Alguns Resultados:

Enfraquecimento da Nobreza francesa e inglesa;

Formação da Inglaterra;

Peste Negra (1337-1340)

Fome - desnutrição

Falta de saneamento nas cidades

Falta de higiene da população

Febre que chegava do Oriente

Nova rota de comércio: Atlântico;

Fortalecimento do sentimento nacionalista.