segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Exatidão do Erro [FSP 08/10/2006]

A exatidão do erro

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

O COMENTÁRIO no Ocidente ao discurso do papa (proferido há quase um mês, associando o profeta Maomé à violência) se alinhou pelas seguintes idéias: não foi um discurso do papa, mas do professor; talvez o papa tenha cometido um erro ao escolher a citação do imperador de Bizâncio, mas isso não justifica as violentas reações no mundo islâmico; o enfoque central do discurso foi a relação entre razão e fé e a crítica do moderno secularismo ocidental.

Por que nenhum dos argumentos é convincente? O papa falou como papa e escolheu o contexto que lhe permitia romper mais claramente com a doutrina papal até agora vigente.

Essa doutrina, vinda do Concílio Vaticano 2º e continuada pelo papa João Paulo 2º, era a do ecumenismo e do diálogo entre religiões, no pressuposto de que todas são um caminho para Deus e têm, por isso, de ser tratadas com igual respeito, mesmo que cada uma reclame uma relação privilegiada com a Revelação. O ecumenismo obrigava a considerar como desvios ou adulterações o uso da violência como arma de afirmação religiosa.

Essa posição é há muito questionada pelo atual papa, para quem a superioridade da religião cristã está na sua capacidade única de compatibilizar fé e razão: agir irracionalmente contradiz a natureza de Deus, verdade perene que decorre da filiação do cristianismo à filosofia grega. Ao contrário, no islã, o serviço de Deus está além da racionalidade. Por isso, a violência islâmica não é um desvio, é inerente ao islã, o que o faz uma religião inferior.

Essa doutrina está bem documentada na sua condenação dos teólogos mais avançados no diálogo ecumênico, na sua recusa em designar o islã como uma religião de paz, na sua oposição à entrada da Turquia na União Européia, dada a incompatibilidade essencial entre islamismo e cristianismo, e na sua convicção de que o islã é incompatível com a democracia.

É, pois, claro que o papa não cometeu um erro. Foi exato no modo como formulou a sua provocação. Aliás, se o seu discurso pretendesse ser uma lição de teologia, seria de péssima qualidade.

Por que não citou o contexto da conversa entre o imperador e o persa e ocultou o passado beligerante e cruzadista do primeiro? Por que não citou opiniões atuais contrárias à que proferiu? Por que não disse que, em qualquer das religiões abraâmicas, há preceitos que podem justificar o recurso à violência, assim tendo sucedido em nome de todas elas?

Perante essas interrogações, é necessário analisar o discurso do papa pelos seus reais objetivos políticos. O primeiro e o mais óbvio é o de apor o selo do Vaticano na guerra de Bush contra o islã e na guerra de civilizações mais vasta que a fundamenta.

Tal como João Paulo 2º alinhara o Vaticano com os EUA na luta contra o comunismo, Bento 16 pretende o mesmo, agora na luta contra o islamismo. Para ele, ante o avanço do islã, a resposta tem de ser mais dura, e precisa do poder temporal para se concretizar. Tal como aconteceu com as Cruzadas ou a Inquisição. Trata-se, pois, de uma teologia de vencedores, uma teologia teoconservadora, paralela à política neoconservadora.

O segundo objetivo é muito mais vasto. Ao defender uma relação privilegiada entre o cristianismo e a racionalidade grega, o papa visa estabelecer o cristianismo como a única religião moderna. Só no âmbito dela é possível conceber "atos irracionais" (a perseguição dos judeus, as guerras religiosas, a violenta evangelização dos índios) como desvios ou exceções, por mais recorrentes que sejam.

Por outro lado, visa fazer uma crítica radical a um dos pilares da modernidade: o secularismo. O papa questiona a distinção entre espaço público e privado e acha "irracional" a religião ter sido relegada para o espaço privado. Dessa "irracionalidade" decorrerão todas as outras que atormentam as sociedades contemporâneas. Daí a urgência de trazer a mensagem cristã para a vida pública, para a educação e a saúde, para a política e a cultura.

O perigo dessa crítica do secularismo está na coincidência com a posição dos clérigos islâmicos extremistas, para quem, em vez de modernizar o islã, há que islamizar a modernidade. Os opostos se tocam, e não para dialogar, mas para se confrontarem.

A irracionalidade do choque reside nas concepções estreitas de racionalidade de que se parte. De um lado, uma racionalidade que transforma a fé em crença racional ocidental; de outro, uma racionalidade que transforma a razão na manifestação transparente da intensidade da fé islâmica.

A luta contra esses extremismos é mais urgente que nunca, pois sabemos que eles foram no passado incubadores de guerras e genocídios devastadores. Mas pode o Ocidente lutar contra o extremismo do Oriente no mesmo passo em que reforça o seu?
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BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS , 65, sociólogo, é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

sábado, 16 de setembro de 2006

Bento XVI - FSP 16/09/2006

Texto provoca interpretações conflitantes

FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO

O tema central do discurso de Bento 16, que provocou revolta em vários setores da comunidade muçulmana internacional, não era a relação entre o islã e o cristianismo. No entanto, o pronunciamento deu margem a interpretações conflitantes das palavras de Ratzinger por parte de especialistas das duas correntes.
O assunto principal que o papa trouxe à tona enquanto falava à platéia da Universidade de Regensburg -e que acabou ficando em segundo plano- foi a relação entre fé e razão.
E o cerne da argumentação do papa foi a afirmação de que "não agir racionalmente é contra a natureza de Deus". Isso porque, conforme o sumo pontífice, a razão humana é manifestação divina, ou seja, Deus está presente em cada um dos homens também por meio da razão.

Fé e violência
A partir daí ele desenvolve um raciocínio que culmina no reconhecimento de que o pensamento racional que rejeita a religião como fonte de princípios éticos é limitado. Até chegar a essa conclusão, ele passa por episódios da história da teologia cristã e faz referências a Kant e Sócrates.
O problema com os clérigos muçulmanos -e agora com políticos de países islâmicos- está no exemplo de que Bento 16 se utilizou para dar início ao seu discurso.
O papa citou trecho de um diálogo que ocorreu ("talvez", como ele mesmo frisa) no final do século 14, entre o imperador bizantino Manuel 2º Paleólogo e um "persa instruído" sobre "a cristandade, o islã e a verdade de ambos". A certa altura, o imperador pede ao seu interlocutor que lhe mostre "o que Maomé trouxe de novo, e você só encontrará coisas más e desumanas, como sua ordem de espalhar pela espada a fé que pregava".
O exemplo é usado pelo papa para dizer que o imperador percebia que atos irracionais -no caso, a guerra, a violência- são contrários a Deus.
"Não dá pra ter religião com violência; era isso que o papa queria dizer", explica o teólogo Fernando Altemeyer Jr., ouvidor e professor da PUC-SP.
Embora o papa tenha afirmado que a pergunta do imperador ao persa foi "brusca", não a condenou. E clérigos muçulmanos viram no uso desse exemplo um sinal de que o papa não entende claramente o conceito de "jihad" (que os muçulmanos traduzem como "esforço" e que é associada no Ocidente à guerra santa), ligando o islã à violência.

Razão no islã
E viram também, num nível mais sutil, a indicação de que o islã mantém uma visão da racionalidade como algo não necessariamente ligado à religião -como o próprio papa disse, "no ensinamento muçulmano, Deus é absolutamente transcendente" (o que significa que pode ser um esforço vão tentar chegar a Deus por meio da razão).
"É lamentável; o papa não sabe o mínimo necessário da religião islâmica", diz o xeque Jihad Hassan, vice-presidente para a América Latina da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica. "A fé é racional também para o islã", completa o xeque Hassan. Do contrário, "como explicar grandes descobertas científicas por parte dos muçulmanos, que seguiam o Alcorão?".
Segundo Altemeyer, porém, a intenção de Bento 16 não foi criticar o islã: "Ele não está criticando o islã"; o que ele afirma é que "não é possível pensar Deus ligado a sangue".
Já o xeque Hassan concorda que "a condenação à violência é imperativa, o problema ocorre quando, ao condená-la, você a liga a um grupo específico. É uma forma de criar um preconceito".

Islâmicos exigem retratação papal

Protestos se espalham no mundo muçulmano contra insinuação de que o islã é irracional e violento

Explicação do Vaticano não acalma clérigos islâmicos; Paquistão aprova resolução que critica o papa e político turco o compara a Hitler

DA REDAÇÃO

Apesar da tentativa do Vaticano de contornar a primeira crise do atual pontificado, o mundo muçulmano elevou ontem o tom de indignação contra o papa Bento 16, que em palestra na última terça-feira teria associado o islã à violência. Um dos principais líderes religiosos muçulmanos exigiu que o papa se desculpe pessoalmente e a maior entidade de países islâmicos protestou contra o que chamou de "campanha suja".
A reação oficial mais severa partiu do Paquistão, cujo Parlamento aprovou por unanimidade uma resolução condenando os "comentários pejorativos" do papa. Salih Kapusuz, vice-líder do partido do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que as declarações do papa podem ter origem na "lamentável ignorância" de Bento 16 sobre o islã ou, pior, foram uma distorção proposital.
"Ele tem uma alma escura, que vem da escuridão da Idade Média", disse Kapusuz. "Bento, autor de declarações tão insolentes e infelizes, entrará para a história na mesma categoria que líderes como Hitler e Mussolini."
A controvérsia foi deflagrada na terça-feira, quando Bento 16 fez uma palestra em uma universidade na região alemã da Baviera, sua terra natal, na qual insinuou que o islã prefere o fanatismo à razão e citou um obscuro texto medieval que chama de "desumanos" os ensinamentos do profeta Maomé (veja trechos ao lado).

Sem ofensa
O Vaticano ontem continuou tentando acalmar os ânimos, sem muito sucesso. O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, defendeu a palestra de Bento 16 e reiterou que ela não teve a intenção de ofender os muçulmanos. "Certamente não foi a intenção do santo padre fazer um estudo abrangente da jihad e das idéias muçulmanas sobre o assunto, menos ainda ofender as sensibilidades da fé muçulmana", disse.
À agência de notícias Reuters, uma "alta fonte do Vaticano" manifestou preocupação com a segurança do papa, que tem viagem marcada para a Turquia em novembro. Uma onda de violência se espalhou pelo mundo muçulmano em fevereiro, em protesto contra a publicação em um jornal dinamarquês de charges consideradas ofensivas a Maomé.
"As declarações do papa são mais perigosas que as charges, porque partiram da mais importante autoridade cristã", advertiu Diaa Rashwan, especialista egípcio em islã.
A explicação do Vaticano foi considerada insuficiente. "Nós exigimos que ele se desculpe pessoalmente, não por meio de fontes [do Vaticano], a todos os muçulmanos, pela interpretação equivocada", disse em Beirute Sayyed Mohammad Hussein Fadlallah, um dos principais clérigos xiitas do mundo.
Em comunicado divulgado ontem, a Organização da Conferência Islâmica, mais importante organização mundial de países muçulmanos, classificou as declarações de Bento 16 de "assassinato de caráter", parte de uma "campanha suja".
Principal dia de orações para os muçulmanos, a sexta-feira teve manifestações em vários países, como Turquia, Líbano e Egito. Na faixa de Gaza, onde o premiê palestino, Ismail Haniyeh, lamentou a ofensa à "essência abençoada" do islã, cerca de 2.000 pessoas participaram de um protesto contra o Vaticano.
Apesar das explicações do Vaticano, alguns analistas viram na declaração de Bento 16 uma tentativa de marcar uma posição mais forte que a dos antecessores em relação à repressão sofrida pelos cristãos nos países islâmicos. "É um passo além da abertura de portas promovida por João Paulo 2º em sua visita histórica ao Oriente Médio, em 2001", disse John Voll, diretor do Centro de Compreensão Cristã-Islâmica da Universidade Georgetown, em Washington.

EXTRATOS

Abaixo, os trechos mais polêmicos do discurso que o papa Bento 16 pronunciou na Universidade de Regensburg, no dia 12 de setembro

"Na sétima conversação editada pelo professor [Theodore] Khoury, o imperador [Manuel 2º Paleólogo] toca na questão da guerra santa. O imperador devia saber que a sura 2.256 diz: "Não há compulsão na religião'"

"Segundo os especialistas, essa é uma das suras do período inicial, quando Maomé ainda não tinha poder e estava sob ameaça. Mas, naturalmente, o imperador também conhecia as instruções, desenvolvidas depois e gravadas no Alcorão, relativas à guerra santa"

"Ele [o imperador] se dirige a seu interlocutor, de maneira flagrantemente brusca, com a questão central sobre a relação entre religião e violência, dizendo: "Mostre o que Maomé trouxe de novo, e achará somente coisas más e desumanas, como sua ordem para espalhar pelo medo da espada a fé que pregava'"

"O imperador prossegue para explicar em detalhes as razões pelas quais propagar a fé por meio da violência é algo irracional. A violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma. "Deus", diz ele, "não gosta de sangue -e não agir pela razão é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Portanto, quem quer levar uma pessoa à fé precisa ter a capacidade de falar bem e de raciocinar corretamente, e não recorrer à violência nem às ameaças...'"

"A declaração decisiva nesse argumento contra a conversão pela violência é esta: não agir de acordo com a razão é contrário à natureza de Deus. O editor, Theodore Khoury, observa: para o imperador, como um bizantino formado pela filosofia grega, essa declaração é auto-evidente. Mas, para os ensinamentos muçulmanos, Deus é absolutamente transcendente. Sua vontade não é limitada por nenhuma de nossas categorias, nem a da racionalidade"

"Neste ponto, na medida em que tratamos do entendimento de Deus e da prática concreta da religião, estamos diante de um dilema inescapável. A convicção de que agir irracionalmente contradiz a natureza de Deus é meramente uma idéia grega ou ela é sempre e intrinsecamente verdadeira?"

domingo, 10 de setembro de 2006

11/09 - 5 Anos - FSP 10/11/2006

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No dia 12 de setembro de 2001, acadêmicos, personalidades e experts de todas as nacionalidades, escolas e tendências arriscavam seus primeiros prognósticos. A "quente", tudo parecia mais definitivo: era o começo do século 21. Era o fim do Império Americano. O início da Guerra Oriente-Ocidente. A falência da aviação comercial como negócio. Houve mesmo quem decretasse, sem ironia, a morte da ironia.
Cinco anos depois, enquanto Hobsbawm aponta os limites do poderio norte-americano, outro historiador, o escocês Niall Ferguson, de Harvard, especialista na cronologia de impérios, detecta seus "freios". "Publicamente, os líderes norte-americanos negam que tenham um destino imperial. Mas os EUA são um império -jovem, com freios domésticos, mas império". Diferentemente do que ocorreu com impérios anteriores e mais longevos, porém, os "freios" definem o americano.
Déficit recorde
São três, segundo Ferguson: escassez de soldados, déficit orçamentário e déficit de atenção do público. No auge da insurgência no que viria a ser o moderno Iraque, nos anos 1920, havia um soldado britânico para 24 iraquianos; hoje, há um soldado norte-americano para 210 iraquianos. Nestes cinco anos, o país gastou US$ 400 bilhões (ou meio PIB brasileiro) com a chamada "guerra ao terror", o que ajudou a levar o país ao maior déficit de sua história recente. E a opinião pública moderna tem uma "vida útil" de cerca de 18 meses: a mesma maioria que apoiava a intervenção no Iraque em abril de 2003 hoje acha a guerra um desastre.
Outra constante nas respostas: o ataque terrorista colocou a nu a política externa norte-americana, que vinha sendo gestada há pelo menos duas décadas e da qual o presidente George W. Bush se tornou apenas a face mais evidente. Para Neil MacFarlane, de Oxford, "a principal mudança é o enfraquecimento das leis internacionais sobre o uso da força".
"Desde que os EUA desenvolveram o conceito de defesa preventiva, a principal potência do mundo quer o direito de atacar quem quiser caso se sinta ameaçada", acredita. Ou, como define mais diplomaticamente Rubens Barbosa, que era embaixador do Brasil em Washington no dia 11 de Setembro, "no contexto externo, emerge uma nova agenda mundial, com conseqüências na área política, diplomática e também militar".
Joseph Nye, professor de relações internacionais da Universidade Harvard, vê no desequilíbrio dos EUA ao usar seus recursos a origem de seu enfraquecimento global. "Os EUA estão mais fracos porque colocaram ênfase demais no chamado "hard power" (poder militar) e reduziram sua atração em "soft power" (diplomacia e comércio)", diz Nye.
O enfraquecimento do país não resulta num fortalecimento de seus inimigos, por paradoxal que pareça. Vários analistas apontam a ação de 11 de Setembro como uma estratégia equivocada da Al Qaeda, grupo terrorista que seria quase dizimado nos anos seguintes pelas forças americanas, embora seu líder, Osama bin Laden, continue vivo, solto e atuante.
"Mas a Al Qaeda se beneficiou ao fazer o mundo perceber a agressividade da política externa de Bush entre os muçulmanos, especialmente na Guerra do Iraque, mas também nas ações de Israel nos territórios palestinos e, mais recentemente, no Líbano", acredita Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan e criador do blog liberal Informed Comment. "Isso ajudou a recrutar uma nova geração de radicais."
Maior erro
A Guerra do Iraque. Se fossem instados a apontar um grande equívoco cometido pelos EUA nesse período, a invasão daquele país seria o vencedor inconteste. "É o fato histórico mais importante", decreta Melani McAlister, da Universidade Georgetown. "O Iraque é um fracasso público que encoraja os inimigos."
A intervenção no Iraque é significativa da "fraqueza" norte-americana, diz Maria Regina Soares de Lima, professora de relações internacionais da PUC do Rio. "Na sociedade de massas e da democratização, o custo da conquista estrangeira é muito alto, não bastam a força e a tecnologia militar."
Com a "guerra errada" (sendo a "guerra certa" a do Afeganistão, que derrubou o Taleban, que dava guarida à Al Qaeda), os EUA sacaram cedo demais o cheque de solidariedade global que conseguiram logo após o 11 de Setembro. "Você imagina alguém levando flores às embaixadas americanas em algum lugar do mundo hoje?", pergunta Mary Dudziak, organizadora do livro "September 11th in History - a Watershed Moment?" (11 de Setembro na história - um divisor de águas?).
Ou, como coloca David Simpson, autor de "9/11 - The Culture of Commemoration" (11/9, a cultura da comemoração), "os EUA destruíram a boa vontade do mundo ao usar o desastre como pretexto para invadir o Iraque. Os episódios de tortura apenas confirmam o fim do papel dos EUA como líder mundial baseado apenas na superioridade moral."
O tamanho do equívoco pode ser medido em números. Como resultado dos ataques daquele dia às torres gêmeas, perderam a vida 2.973 pessoas de 23 nacionalidades, brasileira inclusive. Até ontem, 2.659 soldados das Forças Armadas norte-americana haviam morrido em ação no Iraque. O número de mortos deve ser igualado até o fim do ano.
EUA PERDEM PODER
Como resultado da maneira derrotista com que o governo americano reagiu aos atentados, o poder global dos EUA caiu vertiginosamente. Conseqüentemente, a geopolítica do sistema mundial foi alterada de forma permanente. O maior vencedor é o Irã, que emerge como um ator-chave no Oriente Médio. Um segundo vencedor tem sido a América Latina, que se beneficiou da distração dos EUA para se mover mais à esquerda
Immanuel Wallerstein, professor de relações internacionais da Universidade Yale.
ASCENSÃO DE CHINA E OUTRAS POTÊNCIAS
O 11 de Setembro confirmou tendências anteriores. A principal foi a ascensão da China. Outra foi a inabilidade dos EUA de resolver a crise do Oriente Médio ou confirmar a liderança no que arrogantemente chama de "comunidade das democracias". A terceira foi a incapacidade da UE em se consolidar. A convergência das três deu espaço para o crescimento da China e pode ser o prelúdio à ascensão do Brasil como potência regional
Tony Smith, cientista político da Universidade Tufts, EUA
FORTALECIMENTO DOS RADICAIS
Se há ganhadores são os adeptos de governos teocráticos. Governos religiosos estão ganhando espaço no Oriente Médio, como comprovam o prestígio crescente do Irã e a vitória do Hamas nos territórios palestinos. A pior dimensão das mudanças pós-11 de Setembro é que as tendências à barbárie, tanto dos "terroristas" quanto de certos Estados, ocuparam o lugar de respostas racionais
Angelo Segrillo, historiador da Universidade Federal Fluminense.
AUMENTA A INSEGURANÇA
A principal mudança é cultural. Antes, todos se sentiam seguros, agora há uma sensação de medo, que está crescendo na Europa. Em Londres, desde os ataques ao metrô [no ano passado], as pessoas olham de outro jeito para os sul-asiáticos, como se fossem uma ameaça. No plano mais amplo, houve um enfraquecimento das leis internacionais sobre o uso da força
Neil Macfarlane, chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Oxford
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O TERROR GANHA PODER GLOBAL
Os grupos terroristas adquiriram a condição de novos e importantes atores globais, concorrendo com Estados, partidos, atores econômicos e a sociedade civil. O terrorismo global fundamentalista parece uma reação de pânico à modernidade, percebida como ameaça e não oportunidade. As novas tecnologias viraram um arsenal à disposição da matança em massa, para Estados em guerra e terroristas
Gilberto Dupas, Coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP.
AGENDA COMERCIAL DÁ LUGAR À DE SEGURANÇA
O 11 de Setembro contribuiu decisivamente para deslocar a agenda internacional do campo da economia global para o da segurança. De certa forma, o livro "O Fim da História", de Francis Fukuyama, que dava um tom otimista ao mundo pós-Guerra Fria, foi substituído pelo "Choque de Civilizações", de Samuel Huntington, que consagra a desconfiança e a confrontação
Paulo Vizentini, professor de relações internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O DESENCANTO COM OS EUA
O mundo perdeu a confiança nos EUA. Quando a Guerra Fria terminou, os EUA se viram como a única superpotência. A percepção era que podia-se contar com uma ação responsável dos EUA, que levasse em consideração os interesses de terceiros. Após o 11 de Setembro o governo Bush desprezou as preocupações com aliados. Promulgou uma doutrina de guerra preventiva que criou caos, não ordem
Andrew J. Bacevich, professor de relações internacionais da Universidade de Boston
INTERVENCIONISMO AMERICANO SE AMPLIA
Os EUA se adaptaram mal às mudanças globais e tenderam a usar a força contra novas ameaças. Tais opções lembram métodos apropriados aos desafios pré-Guerra Fria. Isso deriva da crença de que Estados democráticos são os guardiães da segurança. Os EUA se concentrarem no Estado democrático como produto final desejado, mas foram incapazes de lidar com ameaças não-estatais
Rodrick Parkes, analista do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais.

domingo, 3 de setembro de 2006

domingo, 13 de agosto de 2006

Iluminismo / Liberalismo

ILUMINISMO
DEFINIÇÃO:
  • Uma Revolução Intelectual
  • Século da Luzes - XVIII
  • Ideologia da burguesia em ascensão
  • Cidadania: Liberdade, Igualdade, Vida, Propriedade, Rebelião
  • Racionalismo
  • Crítico ao Absolutismo e ao Mercantilismo
  • Anticlerical
John Locke (1632-1706)
    • Os homens nascem livres, iguais e racionais.
    • Entre os direitos naturais se inclui a propriedade.
    • Os poderiam estabelecer o governo que quisessem, e teriam o direito de rebelião.
Governo ideal: monarquia constitucional (parlamentarista).
Montesquieu (1689-1755)
  • Favorável à limitação do absolutismo.
  • Teórico da divisão dos poderes:
  • Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.
  • "Tudo estaria perdido se numa única mão se concentrassem todos os poderes"
Voltaire (1694-1778)
  • Defensor da Liberdade ê crítico da Igreja.
  • Favorável ao Despotismo Esclarecido. Que foi uma tentativa de conciliar o absolutismo com as idéias liberais.
  • Exemplo disso: Portugal - reino de D. José I -
  • Marquês de Pombal u Expulsão dos Jesuítas, protecionismo, incentivo à manufaturas.
Rousseau (1712-1778)
  • Defensor da Igualdade Social
  • Contrário à grande propriedade
  • Defensor de uma Democracia Radical
  • Educação para a cidadania.
  • Mito do Bom Selvagem

Foi o pensador mais influente da Revolução Francesa. Inspirou os Jacobinos que governaram a França na fase mais radical da Revolução


Liberalismo Econômico
  • Contra o Mercantilismo.
  • Não Intervenção do Estado na Economia.
  • Lei Natural: Mercado: Oferta e Procura.
  • Laissez-Faire, Laissez-Passer.
Fisiocracia
Origem da Riqueza: Agricultura.
Escola Clássica Liberal
Adam Smith - A Origem da Riqueza da Nações.
Origem da Riqueza - Trabalho na Indústria.
Divisão do Trabalho - Maior produtividade


domingo, 6 de agosto de 2006

Hizbollah - FSP 06/08/2006

Guerra no Oriente Médio

Hizbollah substitui suicidas por mísseis
Por meio de alianças com Irã e Síria, grupo se arma e dispensa homens-bomba; táticas de guerrilha ainda são usadas
Entre seus integrantes, há desde fundamentalistas a esquerdistas e cristãos; pequenas células se misturam a civis libaneses

GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Ao se desmembrar do grupo xiita Amal em 1982, o Hizbollah parecia ser apenas mais uma das várias organizações armadas na guerra civil libanesa. No entanto, graças à aliança com o Irã, seus membros foram treinado por centenas de guardas revolucionários iranianos em campos no vale do Bekaa e transformaram o grupo no mais poderoso do Líbano.

Após realizar atentados suicidas contra forças dos EUA, da França e de Israel em Beirute, que mataram 659 pessoas ao todo nos anos seguintes, o Hizbollah ganhou notoriedade internacional. Americanos e franceses abandonaram o Líbano logo em seguida.

Os israelenses se retiraram em maio de 2000, após 18 anos de ocupação militar, deixando o Hizbollah soberano no sul do pais, transformando-se em um "Estado" dentro do Estado libanês, com direito a seu exército próprio.

Por meio de suas alianças com o Irã e com a Síria, o grupo conseguiu se armar ainda mais e pôde atacar até mesmo Haifa, tem capacidade de lançar duros ataques mesmo três semanas depois da eclosão do conflito e ainda ameaça atingir Tel Aviv.

O Irã é o ponto de partida do tráfico de armas para o Hizbollah. O regime de Teerã fabrica ou importa os armamentos e os envia para a Síria, que permite que o seu território seja usado para o transporte, além de dar apoio logístico.

A maior parte das armas chega ao território sírio pelo aeroporto de Damasco e de lá segue por terra para o Hizbollah no sul do Líbano e também para a região de Baalbek, no vale do Bekaa.

Mesmo após a retirada síria do Líbano no ano passado, o transporte continuava existindo, apesar de o Departamento de Estado dos EUA ter elogiado em seu relatório anual sobre terrorismo os avanços do governo de Beirute para controlar a fronteira com a Síria.

Com a posse de armamentos mais avançados, o grupo libanês pôde deixar de lado os ataques suicidas no atual conflito contra Israel. Durante a ocupação militar israelense do sul do Líbano, o Hizbollah não possuía mísseis sofisticados como agora.

Na época, sem esses mísseis, o Hizbollah recorria aos ataques suicidas, ainda que em escala bem menor do que o Hamas na Intifada e sempre alvejando militares israelenses que ocupavam o sul do Líbano, não civis em cidades de Israel, como faz o grupo palestino - daí a discussão se o Hizbollah é um grupo terrorista ou uma resistência contra ocupação.

Alem da posse de armas mais sofisticadas, Martha Crenshaw, professora da Universidade Wesleyan e autora do livro "Terrorism in Context" (o terrorismo em contexto), afirma que "as ações suicidas perderam a sua eficiência psicológica e politica", hoje mais presentes no uso de mísseis, com resultados muito superiores e que vem sendo copiada pelo Hamas e o Jihad Islâmico em Gaza.

Em outra mudança, o Hizbollah deixou de atacar apenas militares como fazia quando Israel ocupava o Líbano até 2000, e passou a lançar mísseis indiscriminadamente contra cidades israelenses. Após a retirada de Israel, os ataques do grupo ficaram quase inteiramente restritos às Fazendas de Shebaa, região que a Síria e o Líbano dizem ser libanesa, mas que a ONU afirma ser território sírio ocupado militarmente por Israel (houve também casos de mísseis contra o norte israelense, mas numa escala infinitamente menor do que agora).

Apesar de ter abandonado pelo menos temporariamente as ações suicidas, o Hizbollah voltou a adotar no atual confronto a prática do seqüestro, com uma diferença: apenas soldados israelenses foram vítimas de seqüestro, episódio que foi o estopim do confronto.

Nos anos 80, durante a guerra civil do Líbano (1975-90), o Hizbollah capturou dezenas de jornalistas e diplomatas ocidentais. Hoje jornalistas são levados para "city tours" no sul de Beirute para ver o resultado dos bombardeios israelenses.

O grupo libanês evoluiu também nas suas táticas de guerrilha, segundo disse à Folha o professor de Columbia Stuart Gottlieb, com ações muito mais complexas do que durante a anterior ocupação de Israel.

Escondidos entre civis

Em artigo recente em um blog de contra-terrorismo, Magnus Ranstorp, acadêmico sueco que é considerado um dos maiores conhecedores da parte militar do Hizbollah, afirmou que o grupo vem agindo através de células pequenas, de quatro, cinco membros que ainda são treinados por guardas revolucionários iranianos.

Após as ações, eles retornam para a suas casas ou se misturam no meio de civis libaneses. As armas estão escondidas nos mais variados lugares da região, como casas e até mesmo mesquitas.

É diferente da Al Qaeda, onde as células se localizam muitas vezes em países ocidentais e não seguem uma hierarquia como o Hizbollah ou o Hamas, de acordo com Reid Sawyer, diretor do Centro de Combate ao Terrorismo do Exército dos EUA e professor de Columbia. Alem disso, a Al Qaeda planeja atentados, e não ações de guerrilha, como lançamento de mísseis ou emboscadas.

A principal base de operações do Hizbollah é o sul do Líbano, mas os campos de treinamento se localizam perto de Baalbek, e o comando do grupo nos subúrbios do sul de Beirute. A embaixada iraniana na capital libanesa também é usada para contatos entre o Irã e as lideranças do grupo no Líbano.

Conexão iraniana

O principal elo entre o Irã e o Hizbollah se dá por Imad Mughniyeh, considerado, segundo relatório do Council on Foreign Relations, o principal articulador das ações militares do grupo. Ele inclusive teria planos de ações terroristas dentro de Israel por meio de integrantes do grupo que possuem passaporte europeu, segundo escreveu Ranstorp. No passado, operações similares foram abortadas.

Atualmente, o Hizbollah não teria plano de ações em outros países, como o seqüestro de um avião da TWA nos anos 80 ou o atentado contra a embaixada de Israel e a Amia em Buenos Aires nos anos 90, ações negadas pelo grupo.

O líder máximo do Hizbollah é o xeque Hassan Nasrallah, que chegou ao cargo por suas habilidades militares e conhecimentos teológicos, combinação geralmente difícil entre jihadistas, e o órgão decisório é a Shura al Qarar. Os membros da organização são majoritariamente xiitas, seculares e religiosos, e também libaneses de outras religiões.

Em seu livro "Dying to Win: The Strategic Logic of Suicide Terrorism" (morrer para ganhar: a lógica estratégica do terrorismo suicida), Robert Pape, professor da Universidade de Chicago, afirma que os integrantes da ala militar do Hizbollah não são fanáticos religiosos como muitos imaginam. Ao avaliar a biografia de 38 suicidas em seu livro, Pape concluiu que apenas oito eram fundamentalistas e 27 integravam grupos esquerdistas libaneses, incluindo três cristãos. A média de idade é de 21 anos. Não há dados sobre os militantes na atual guerrilha.

Segundo a base de dados militar Jane's, o grupo possui entre 300 e 5.000 membros ativos e de 3.000 a 15 mil reservistas. Para os analistas, esse numero deve aumentar facilmente após os bombardeios de Israel.


sábado, 15 de julho de 2006

Canudos

CANUDOS (1893-1897)
O centenário da morte de Antônio Conselheiro e da destruição de Canudos traz um paradoxo. Euclides da Cunha inseriu a guerra na memória coletiva, ao apresentar, em "Os Sertões", a visão de um país fraturado por mundos culturais conflitantes. Historiadores e antropólogos se afastaram, porém, nas últimas décadas da interpretação de Euclides, criticado por sua avaliação negativa do movimento religioso e da atuação de seu líder, Antonio Conselheiro, que morreu em 22 de setembro de 1897. (F.S.P. 21/9/97)
Canudos euclidiano
Antonio Conselheiro é um personagem trágico, por forças obscuras que o levaram à loucura e ao conflito com a Igreja e o Governo Sebastianismo(rei português do século XVI) e Messianismo. Profecias apocalípticas.
A Guerra de Canudos foi um prolongamento do florianismo militarista. A República artificial deveria ser refundada. A guerra foi um crime (estupro e venda de mulheres e crianças pelas forças militares; a degola de sertanejos)
Canudos não-euclidiano
A. Conselheiro teve uma concepção devocional do catolicismo. Praticava um profetismo não milenarista ou apocalíptico. Realizava pregações no sertão para se construir Igrejas e Cemitérios. Rompe com a República devido a separação entre Igreja e Estado. A República passou a ser interpretada por Conselheiro como o Anti-Cristo. Daí a rebelião contra a cobrança de impostos e o enfrentamento com as milícias e construção do Arraial de Belo Monte no interior árido da Bahia (a Terra Prometida).
A população de Canudos, calcula-se, entre 10 e 25 mil habitantes.
Quem era o Conselheiro?
Nascido em 1830 na vila de Quixeramobim. Família de comércio e frustração profissional e matrimonial. Biblado, tirava rezas arrecadava dinheiro para as igrejas, peregrinava e parava em vilarejos para fazer suas obras (reconstruir igrejas e cemitérios), pedir esmolas e discursar suas prédicas (pregações). Defensor de um catolicismo milenarista e visionário do apocalipse. Tornou-se líder do arraial e o defendeu até a morte.
Organização Econômica de Canudos
A tradição sertaneja de cooperação no processo agrícola e direito à privacidade familiar e fundo comum para os incapacitados (legumes, milho, feijão, batata, melancia, cana, pecuária(bode) , caça, pomares) permaneceu viva em Canudos.
Comércio pecuarista e intercâmbio com outras cidades. Parte do dinheiro obtido com o comércio e dos assalariados que trabalham em fazendas vizinhas iam para o fundo comum, impedindo o surgimento de hierarquias sociais.
A migração integrava as necessidades econômico sociais às religiosas. Era o sonho do sertanejo e um obstáculo ao pleno domínio coronelístico. Tornou-se uma ameaça aos novos donos do poder.
AS RAZÕES DA GUERRA
As disputas coronelísticas no estado da Bahia. As aposições à oligarquia estadual acusavam-na de proteger Antonio Conselheiro em troca de sua influência política.
A Igreja considerava o conselheiro como um fanático religioso.
As autoridades republicanas (os novos donos do poder) não se esqueceram a desobediência dos conselheiristas às leis do novo regime, sobretudo a recusa ao pagamento de impostos.
O exército também se sentiu ameaçado e, como o beato pregava abertamente contra a República, tachar sua comunidade de foco de restauração monarquista foi a justificativa encontrada para uma guerra injustificável.
A Guerra - Sinal de Modernidade
A Guerra se inicia com o episódio das madeiras para se construir uma nova Igreja no Arraial de Belo Monte (Canudos).
Ocorreram 4 expedições - A cada derrota dos militares crescia o sentimento de indignação e revolta e a necessidade de resgatar a honra dos militares.
Foi uma guerra com sinais de modernidade por parte do exército (combinação de armamentos, peças de artilharia leves, fuzis Manlicher e de repetição, engenharia, mapas e extensões telegráficas, granadas e lança-chamas caseiros, exposição de corpos mortos como recurso psicológico). O sertanejo contava com a aguerrida defesa do arraial e com a mística de "defender o seu chão", o que impediu estratégias ofensivas contra o inimigo.

sábado, 17 de junho de 2006

Processo de Independência do Brasil (séc. XVIII – XIX)


Sentido Histórico das Colônias Latino-Americanas
É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até os nossos dias, tudo se transforma em capital europeu acumulado ou, mais tarde, norte‑americano, e como tal tem se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos.
(Eduardo Galeano ‑ As Veias Abertas da América Latina).

A Crise do Antigo Regime
  • Revolução Industrial – Necessidade inglesa de novos mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas.
  • Iluminismo/Liberalismo – Revolução Francesa: combate ao Absolutismo e ideais de Liberdade e Igualdade
  • Revolução Americana – Um exemplo a ser seguido.
  • Período Napoleônico – Intervenção em Portugal durante o Bloqueio Continental (1806-1815)
Fatores Internos
Desenvolvimento da colônia - Uma Contradição Interna
não é possível explorar a colônia sem desenvolvê‑la isto significa ampliar a área ocupada aumentar o povoamento, fazer crescer a produção. E certo que a produção se organiza de forma especifica, dando lugar a uma economia tipicamente dependente, o que repercute também tia organização social da colônia. Mas de qualquer modo, o simples crescimento já complica o esquema a ampliação das tarefas administrativas vai promovendo o aparecimento de novas camadas sociais, dando lugar aos núcleos urbanos etc. Assim, pouco a pouco vão se revelando oposições de interesse entre colônia e metrópole, e quanto mais o sistema funciona mais o fosso se aprofunda.
(Fernando Novaes ‑ As Dimensões da Independência).

Revoltas Nativistas
 
Marcados pelo Isolamento político, ausência de projetos claros, defesa de interesses restritos, não contestaram o Sistema Colonial
1684 – Revolta de Beckman – Maranhão.
Razões: Monopolismo da Cia de Comércio e disputa com os Jesuítas pelo controle da mão-de-obra indígena.
Pelas presentes Letras decretamos e declaramos com nossa autoridade apostólica que os referidos índios e todos os demais povos que daqui por diante venham ao conhecimento dos cristãos, embora se encontrem fora da fé de Cristo, são dotados de liberdade e não devem ser privados dela, nem do domínio de suas cousas, e ainda mais, que podem usar, possuir e gozar livremente desta liberdade e deste domínio, nem devem ser reduzidos à escravidão; e que é írrito, nulo e de nenhum valor tudo quanto se fizer em qualquer tempo de outra forma.
(padre Vieira)

Guerra dos Emboabas – MG – 1708/1709
Razão: Disputa pela posse da área mineradora entre Bandeirantes e Emboabas.
Resultado: Criação da Província de São Paulo do Piratininga e das Minas

Guerra dos Mascates – Pe – 1709/1710
Razão: Crise da produção açucareira; decadência econômica de Olinda; rivalidades entre comerciantes portugueses (Recife) e A aristocracia de Olinda.
Resultado: Emancipação do Recife.
 
Rebeliões Pró-Independência

Inconfidência Mineira - 1789
Razões: Influência Iluminista; Opressão tributária; proibição de manufaturas; monopólio português sobre o sal, endividamento das elites locais, decadência da produção mineradora.
Projeto: estabelecer uma República;
Incentivar manufaturas;

Incentivar a produção agrícola;
Criar uma universidade;

Eram favoráveis à escravidão.
Limite do Movimento: Era teórico e elitista; foi derrotado não apenas pela delação.

Portanto, condenam ao réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas Gerais a que, com baraço e pregação, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre e que, depois de morto, lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, aonde, em o lugar mais público dela, será pregada em poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos e pregado em postes, pelo caminho de Minas, no sítio das Varginha e Cebolas, aonde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios de maiores povoações, até que o tempo também os consuma; declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo‑os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e no mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável réu.

Conjuração Baiana - 1798

Influência Iluminista; difundido pela Maçonaria
Forte presença popular
Questionava a desigualdade social e a escravidão
O Poderoso e Magnífico Povo Bahinense Republicano desta cidade da Bahia Republicana Considerando nos muitos e Latrocínios feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da Rainha de Lisboa e no que respeita a inutilidade da escravidão do mesmo Povo tão sagrado e Digno de ser livre, com respeito a liberdade e igualdade ordena, manda e quer que o futuro seja feita nesta cidade e seu termo a sua revolução para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo reinavel da Europa.

Revolução Pernambucana – 1817

Participação de fazendeiros, classe média e setores populares
Decadência econômica do NE: açúcar e algodão
Estabelecimento de tributos cada vez mais pesados
Forte conteúdo Liberal devido à ação do Seminário de Olinda

Estabeleceram um Governo Provisório republicano
Criaram leis que asseguravam Direitos individuais e de propriedade

Estavam divididos em relação à escravidão
Quem furta pouco é ladrão
Quem furta muito é barão,
Quem mais furta e esconde
Passa de barão a visconde
Furta Azevedo no Paço
Targini rouba no Erário,
E o povo aflito carrega
Pesada cruz ao calvário

Período Joanino – 1808/1821

1808 – Abertura dos Portos às Nações Amigas
Fim do Pacto Colonial
Revogação do decreto que proibia manufaturas na colônia;
Criação do Banco do Brasil;

Urbanização do Rio de Janeiro
Criação da imprensa Régea
810 – Tratado de Aliança e Amizade:
nomeação de juízes Britânicos para julgar súditos ingleses residentes no Brasil;
Liberdade religiosa para os ingleses; redução das tarifas alfandegárias (15%) para a Inglaterra; 16% para Portugal;24% para as outras nações.

Vida de Nobre no Brasil

1820 - A Revolução do Porto obriga D. João a retornar a Portugal

D. João VI Volta



D. Pedro Fica

O Desenrolar dos Fatos em 1822
  • “Como é para o bem geral da nação, estou pronto, diga ao Povo que fico” (Pedrão)
  • Decreto do Cumpra-se. Nenhuma ordem de Portugal deveria ser viabilizada pelo Cumpra-se do Pedrão.
  • “O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece” (Dona Leopoldina) – Em mensagem enviada a Pedrão no dia 7 de Setembro de 1822.
D. Pedro meditou; vinha adoentado e tinha feito alto para descansar um pouco. Mas, de súbito, amassa o papel que tem nas mãos, pisa‑o e brada visivelmente irritado: `É preciso acabar com isto!'. Salta sobre o cavalo e marcha em direção do riacho Ipiranga, onde se encontrava o resto da comitiva. A guarda forma. Há um alvoroço, e D. Pedro exclama com toda a força dos pulmões: "Laço fora, soldados!' Caem no mesmo instante todos os laços portugueses. E impetuoso, vibrante, altivo, D. Pedro contínua: 'Camaradas! as Cortes de Lisboa querem mesmo escravizar o Brasil. Cumpre, portanto, declarar já a sua independência. Estamos definitivamente separados de Portugal'. Ergueu‑se no selim, puxou da espada e, entre solene e dramático, bradou: 'Independência ou morte seja a nossa divisa; o verde e o amarelo sejam as nossas cores nacionais!'. Volta D. Pedro a S. Paulo, onde a população o recebe ardorosamente. Compõe o hino da Independência que é orquestrado e cantado no teatro quando o padre Ildefonso Ferreira, subindo numa cadeira deu gritos de vivas ao 1 ° rei do Brasil. Isto posto, estava o Brasil independente.
(PINTO, Luiz. História do Povo Brasileiro.)

Um Novo Pacto Colonial
Segundo Adam Smith o fundador do liberalismo econômico, cada nação deveria participar da divisão internacional do trabalho seguindo sua "vocação". A vocação dos países latino‑americanos era exportar bens primários agropecuários e importar bens manufaturados de países cuja "vocação"' seria a indústria. A ausência de tarifas protecionistas dificultou, na grande maioria das vezes, um processo de industrialização independente. Ao contrário, a crescente importação de produtos industrializados contrabalançado negativamente com as exportações de cereais, tabaco, açúcar, café geravam déficits crônicos na Balança Comercial e empréstimos sobre empréstimos para pagar esses déficits. No setor de serviços e na mineração a atuação de empresas de capital externo foi num crescendo, ocupando espaços no mercado dos países latinos da América.
 
Os Limites de Nosso Liberalismo
  • Manutenção de uma economia agrário-exportadora
  • Manutenção da escravidão
  • Exclusão das camadas populares dos direitos de cidadania
  • Estabelecimento de um regime imperial


domingo, 11 de junho de 2006

Período Napoleônico

Significados:
Consolidação da Revolução Francesa e da grande burguesia;
Revolução Industrial na França;
Expansão dos ideais liberais para toda a Europa;
Independência da América.


Política Interna
Combate a Inflação;
Criação do Banco da França;
Emissão de uma Nova Moeda (Franco);
Investimento em infra-estrutura (estradas e portos);
Código Napoleônico (Direitos com repressão a sindicatos e greves)
Concordata com a Igreja Católica;

Império
1804 - Auto-coroação;
1805 - Tentativa de invadir a Inglaterra;
1806 - Bloqueio Continental - Tentativa de asfixiar a economia inglesa;
1808 - Intervenção na Península Ibérica;
1812 - Intervenção na Rússia;
1814 - Derrota na Batalha de Leipzig;
1815 - Governo dos Cem Dias;
1815 - Derrota em Waterloo.

Congresso de Viena [1815]
Países Hegemônicos: Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e França.
Princípio da Legitimidade:
Volta das Dinastias Absolutistas ao Poder
Restabelecimento das Fronteiras Nacionais
Princípio do Equilíbrio Europeu:
Supremacia das Nações ricas
Santa Aliança:
Intervenção onde houvesse ameaça revolucionária
Tentativa de Recolonização da América
Doutrina Monroe - “A América Para os Americanos”

domingo, 28 de maio de 2006

Revolução Francesa [1789 - 1799]

Significados:

Fim do Absolutismo, do mercantilismo e dos vestígios de feudalismo. Tomada do poder pela burguesia. Criação do Estado Liberal e do Liberalismo Econômico.
Sociedade Estamental:
1° Estado: Clero – Alto / Baixo
2° Estado: Nobreza – Sangue e Togada
3° Estado: Burguesia – Alta / Média / Pequena
Camponeses e Sans-Coulottes.
1° e 2° Estados - Isentos de tributos.


Enquanto Isso... Os aposentos do Rei
A Crise Econômica:

•Quebra da Produção Agrícola
•Déficit Público e Gastos com a Corte
• Inflação descontroladaGastos com guerras (Guerra dos Sete Anos - 1756/63)
Mercantilismo e Intervencionismo estatal
Abertura dos Portos franceses aos produtos ingleses.

Tentativas de Contornar a Crise:
Assembléia dos Notáveis - Nobreza se recusa a pagar tributos
1789 - Assembléia dos Estados-Gerais:
Questão dos votos:
1° e 2° Estados – Voto por Estado
3° Estado – Voto por Cabeça.

As Ruas:
1 ‑ O que é o Terceiro Estado? Tudo.
2 ‑ Que foi ele até o presente na ordem política? Nada.
3 ‑ Que solicita? Tornar‑se alguma coisa.
Que é necessário para que uma nação subsista e prospere? Trabalhos particulares e funções públicas. Todos os trabalhos particulares podem‑se resumir em 4 classes: os agricultores, os trabalhadores da indústria, os negociantes, as profissões científicas, liberais ou de recreio (...).
... o Terceiro Estado forma em toda parte dezenove vigésimos nessas funções com a diferença de que é encarregado de tudo o que é verdadeiramente penoso, de todas as tarefas que a ordem privilegiada recusa preencher...
... Ele reivindica um número de representantes igual ao das outras ordens juntas. Enfim essa igualdade de representações se tornaria perfeitamente ilusória, se cada Câmara tivesse sua voz separada. O Terceiro Estado reivindica, portanto, que os votos sejam somados por cabeça e não por ordem. A verdadeira intenção do Terceiro Estado é ter nos Estados Gerais uma influência igual à dos privilegiados.
(Abade Sieyès, janeiro de 1789).

• Os representantes se reúnem em separado na Sala do Jogo da Péla onde fazem um juramento: Dar uma Constituição para a França.
  • Início da Revolução: 14 de Julho de 1789 com a Tomada da Bastilha.
“Em tempos de revolução nada é mais poderoso do que a queda de símbolos. A queda da Bastilha, que fez do dia 14 de Julho a festa nacional francesa, ratificou a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como o princípio de libertação”
(Hobsbawn, Eric. A Era das Revoluções)

As Fases da Revolução:
Girondinos - Alta Burguesia – Conservadores – Direita
Jacobinos – Pequena Burguesia – Radicais – Esquerda
Planície/Pântano - Centro Político – Pouca Convicção Ideológica.

1 Fase: A Assembléia Nacional (1789 -1792):
Domínio da alta burguesia (girondinos) e por setores do clero e da nobreza.
Abolição do absolutismo, do mercantilismo e dos privilégios feudais.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
O Grande Medo. 

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão teria grande repercussão no mundo inteiro. “Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária. ‘Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis’, dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções sociais, ainda que ‘somente no território da utilidade comum’. A propriedade privada era um direito natural, sagrado, inalienável e inviolável”
(HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções)

Constituição Civil do Clero (Juramentados e Refratários).
Revolta da Vendéia.
Constituição (parlamentarismo e voto censitário).
Tentativa de fuga do Rei e ameaça externa.


2 Fase: A Convenção Nacional (1792 - 1795):

Dominada pela pequena burguesia.
Lei do Máximo (Congelamento de Preços);
Comitê de Salvação Pública;
Lei do Terror (Guilhotina);
Sufrágio Universal;
Novo Calendário;
Ensino Público e Gratuito;
Reação Thermidoriana (Fim do Governo Jacobino).

O Assassinato de Marat - Líde Popular

O Terror:
“O simples fato de ser ‘denunciado’(quer por motivos justos, quer por animosidade pessoal) tornou-se praticamente o bastante para assegurar a execução (principalmente na guilhotina). Tem-se calculado o número total das pessoas que foram julgadas e condenadas durante o período do Terror em cerca de 17 mil (só em Paris, 2.500); se acrescentarmos a esse número das execuções sem julgamento, de mortes nas prisões, etc., o total final poderá cifrar-se entre 35 a 40 mil de mortos. Destes, apenas 15% pertenciam ao clero e à nobreza, cabendo uns sólidos 85% à burguesia, ao campesinato e aos trabalhadores das cidades.”
(MC Crory, Martin & MOULDER, Robert. Revolução Francesa para principiantes)

3 Fase: O Diretório (1795 - 1799):
Corrupção, especulação e inflação;
Ameaças internas (Conspiração de Babeuf)
Ameaças externas (coligações).
Ascensão de Napoleão Bonaparte (Golpe do 18 Brumário).

“A volta do liberalismo econômico causou miséria durante o inverno de 1794-95. A miséria constratava com a exibição de luxo e riqueza a que a burguesia se entregava: com o fim do Terror, especuladores, traficantes, agiotas, etc. podiam respirar aliviados, a guilhotina não ameaçava mais suas cabeças”
(FLORENZANO, Modesto. As revoluções burguesas).

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Independência dos EUA



















Tipos de Colonização
NORTE e CENTRO:
Povoamento
Perseguidos da Inglaterra desenvolvimento autônomo (negligência salutar)

SUL:
Exploração
Plantation


Desenvolvimento do Norte
Comércio Triangular:
-   T
ráfico de Escravo da África para as Antilhas
- Aquisição de melaço de cana de açúcar nas Antilhas
- Produção de rum em manufaturas e exportação para a Inglaterra.

Os Conflitos com a Inglaterra (XVIII)

Revolução Industrial
necessidade de novos mercados consumidores;
Guerra dos 7 Anos (1756-63)
Vitória inglesa, porém com muitos gastos
Déficit no tesouro britânico.
Ideário
Iluminismo/Liberalismo






















Tributos:
Lei do Açúcar
Lei do Selo
Lei do Chá
Tea Party (1773)
Leis Intoleráveis
Ruptura com a Declaração de Independência (1776)
Guerra de Independência (1776-1783) - apoio francês.

Todos os homens são criados iguais e dotados pelo Criador de certos direitos fundamentais, como a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Para assegurar tais direitos, são instituídos Governos entre os homens. O justo poder desses Governos deriva do consentimento dos governados. Todas as vezes que qualquer forma de Governo torna-se destrutiva desses objetivos, é do direito do povo alterá-la ou aboli-la.
(Thomas Jefferson)


Constituição (1787)

  • República presidencialista.
  • Regime federalista - mantém diferenças entre o Norte e o Sul.
  • Divisão de poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
  • Direitos: Liberdade, Igualdade, Vida, Propriedade, Rebelião etc.
  • Direito de votos apenas para proprietários. Exclusão das mulheres e escravos.
  • Separação Igreja/Estado.