quarta-feira, 26 de março de 2008

Indicação

Boas indicações de trabalhos sobre a História brasileira escrita por jornalista:


Todos do Elio Gáspari.

1808 II

Terminei a leitura do livro 1808 de Laurentino Gomes. Continuo recomendand0 a leitura aos meus alunos que vão enfrentar vestibulares. Ele apresenta um bom apanhado da época, nada com muita profundidade, bem ao nível de uma formação mediana.

Agora o livro é decepcionante, mesmo com as ressalvas feitas pelo autor de que sua praia é o jornalismo. O que esperamos de um jornalista freqüentador da grande imprensa? Que seja dono de um bom cabedal do que chamamos de cultura geral. Nesse sentido, o autor é pobre. Mesmo que seus propósitos não fossem os de descer aos arcabouços da análise historiográfica, uma obra que versa sobre a História poderia ao mínimo sugerir indagações, pontos de vistas, indicações sobre os temas tratados, situações que sugerissem ao leitor até o desejo de maiores vôos ou aprofundamentos. Nesse sentido, o livro é pobre. E, pior, quando o autor se propõe a essa aventura, se revela paupérrimo. Um deles já indiquei no outro comentário: aquele de sugerir a fuga de nossas elites empresariais e políticas após uma invasão argentina sobre nosso território. Há muitos outros, o que, de certo modo, revela que o autor, parece desconhecer o básico da própria história brasileira. Não vou indicá-los aqui. Deixo isso para os leitores potenciais deste livro.

Antes de terminar, entretanto, saliento o clima de tragédia de péssima qualidade que representam os dois últimos capítulos. No penúltimo, o autor tratando de um dos personagens citado várias vezes em seu livro, revela que ele teve um segredo desvendado 200 anos depois por suas pesquisas. Pensei eu: -bem teremos um término ao menos com "chave de ouro". Minha curiosidade aumentou quando na segunda frase do último capítulo intitulado "O Segredo" o autor afirma: "O que vem a seguir interessa especialmente aos historiadores". Feita a leitura do capítulo inteiro posso dizer: interessa sim, aos que enxergam a História como um amontoado de fofocas, pois trata-se de uma suposta comprovação do nascimento de um filho antes do casamento do personagem em questão. Suposta comprovação, porque a fonte que possibilitou ao autor essa conclusão foi uma pesquisa realizada num megasearch mórmon que se propõe a realizar genealogias on-line. Pobre D. João.

domingo, 16 de março de 2008

João Cabral

A Folha de São Paulo está com uma coleção de literatura brasileira nas bancas ao preço de R$14,90. Tudo excelente: encadernação, papel, requinte. Vale a pena o investimento. Estou comprando alguns títulos que ainda não tenho ou que pretendo substituir pelo antigo. Aproveito o tempo de ÓCIO para ler de maneira aleatória alguma coisa. Peguei o João Cabral, Morte e Vida Severina. Perdi a conta de quantas vezes assisti a essa peça, mas não importa permanece sempre atualíssima. Na edição da Folha há também outros poemas maravilhosos. Veja este:

Vi muitos arrabaldes
ao atravessar o Recife:
alguns na beira da água,
outros em deitadas colinas;
muito no alto de cais
com casarões de escadas para o rio;
todos sempre ostentando
sua ulcerada alvenaria;
todos porém no alto
de sua gasta aristocracia;
todos bem orgulhosos,
não digo de sua poesia,
sim, da história doméstica
que estuda descobrir, nestes dias,
como se palitavam
os dentes nesta freguesia.


Brilhante, sutil, irônico... verve de gênio.

sábado, 15 de março de 2008

1808

Estou lendo o livro 1808 do jornalista Laurentino Gomes da Editora Planeta. Trata-se de mais uma obra destinada ao grande público, sem maiores pretensões, assim mesmo recomendo a leitura. O autor foi honesto, na apresentação indica não ter trabalhado com fontes primárias, essencial no trabalho historiográfico. Esclarece que organizou seu texto a partir da leitura de 150 livros sobre o assunto estabelecendo assim uma grande síntese.

O leitor não deve se assustar com o tamanho do livro. São ao todo 351 páginas, mas a fonte utilizada deve ser tamanho 12 ou 14. Além disso, a escrita é fluente e bem encadeada, fato que estimula à atenção até o final.

Pessoalmente achei sofrível a citação que reproduzo a seguir retirada do primeiro capítulo.

Imagine que num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para a Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estado Unidos. Com ele teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores líderes empresariais. E mais: a esta altura, tropas da Argentina já estariam marchando sobre Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília.

Em primeiro lugar, creio que o povo brasileiro se sentiria aliviado com a fuga dos donos do poder para um lugar distante. Eu iria para as ruas comemorar. Em segundo lugar, tropas argentinas invadindo o Brasil... forçou a barra... achei ridículo.