CANUDOS (1893-1897)
O centenário da morte de Antônio Conselheiro e da destruição de Canudos traz um paradoxo. Euclides da Cunha inseriu a guerra na memória coletiva, ao apresentar, em "Os Sertões", a visão de um país fraturado por mundos culturais conflitantes. Historiadores e antropólogos se afastaram, porém, nas últimas décadas da interpretação de Euclides, criticado por sua avaliação negativa do movimento religioso e da atuação de seu líder, Antonio Conselheiro, que morreu em 22 de setembro de 1897. (F.S.P. 21/9/97)
Canudos euclidiano
Antonio Conselheiro é um personagem trágico, por forças obscuras que o levaram à loucura e ao conflito com a Igreja e o Governo Sebastianismo(rei português do século XVI) e Messianismo. Profecias apocalípticas.
A Guerra de Canudos foi um prolongamento do florianismo militarista. A República artificial deveria ser refundada. A guerra foi um crime (estupro e venda de mulheres e crianças pelas forças militares; a degola de sertanejos)
Canudos não-euclidiano
A. Conselheiro teve uma concepção devocional do catolicismo. Praticava um profetismo não milenarista ou apocalíptico. Realizava pregações no sertão para se construir Igrejas e Cemitérios. Rompe com a República devido a separação entre Igreja e Estado. A República passou a ser interpretada por Conselheiro como o Anti-Cristo. Daí a rebelião contra a cobrança de impostos e o enfrentamento com as milícias e construção do Arraial de Belo Monte no interior árido da Bahia (a Terra Prometida).
A população de Canudos, calcula-se, entre 10 e 25 mil habitantes.
Quem era o Conselheiro?
Nascido em 1830 na vila de Quixeramobim. Família de comércio e frustração profissional e matrimonial. Biblado, tirava rezas arrecadava dinheiro para as igrejas, peregrinava e parava em vilarejos para fazer suas obras (reconstruir igrejas e cemitérios), pedir esmolas e discursar suas prédicas (pregações). Defensor de um catolicismo milenarista e visionário do apocalipse. Tornou-se líder do arraial e o defendeu até a morte.
Organização Econômica de Canudos
A tradição sertaneja de cooperação no processo agrícola e direito à privacidade familiar e fundo comum para os incapacitados (legumes, milho, feijão, batata, melancia, cana, pecuária(bode) , caça, pomares) permaneceu viva em Canudos.
Comércio pecuarista e intercâmbio com outras cidades. Parte do dinheiro obtido com o comércio e dos assalariados que trabalham em fazendas vizinhas iam para o fundo comum, impedindo o surgimento de hierarquias sociais.
A migração integrava as necessidades econômico sociais às religiosas. Era o sonho do sertanejo e um obstáculo ao pleno domínio coronelístico. Tornou-se uma ameaça aos novos donos do poder.
AS RAZÕES DA GUERRA
As disputas coronelísticas no estado da Bahia. As aposições à oligarquia estadual acusavam-na de proteger Antonio Conselheiro em troca de sua influência política.
A Igreja considerava o conselheiro como um fanático religioso.
As autoridades republicanas (os novos donos do poder) não se esqueceram a desobediência dos conselheiristas às leis do novo regime, sobretudo a recusa ao pagamento de impostos.
O exército também se sentiu ameaçado e, como o beato pregava abertamente contra a República, tachar sua comunidade de foco de restauração monarquista foi a justificativa encontrada para uma guerra injustificável.
A Guerra - Sinal de Modernidade
A Guerra se inicia com o episódio das madeiras para se construir uma nova Igreja no Arraial de Belo Monte (Canudos).
Ocorreram 4 expedições - A cada derrota dos militares crescia o sentimento de indignação e revolta e a necessidade de resgatar a honra dos militares.
Foi uma guerra com sinais de modernidade por parte do exército (combinação de armamentos, peças de artilharia leves, fuzis Manlicher e de repetição, engenharia, mapas e extensões telegráficas, granadas e lança-chamas caseiros, exposição de corpos mortos como recurso psicológico). O sertanejo contava com a aguerrida defesa do arraial e com a mística de "defender o seu chão", o que impediu estratégias ofensivas contra o inimigo.