domingo, 30 de novembro de 2008

Ode a Inteligência

JOSÉ SARAMAGO
A humanidade não merece a vida
Prêmio Nobel português se define como um "comunista hormonal" e afirma que os instintos servem melhor aos animais do que a razão aos homens

O ESCRITOR português José Saramago, 86, disse ontem que "a história da humanidade é um desastre" e que "nós não merecemos a vida". O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.

DA REPORTAGEM LOCAL
HUMANIDADE
A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.
MARXISMO HORMONAL
Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.
CRISE ATUAL
Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.
DEUS E BÍBLIA
Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...
RELAÇÃO COM PORTUGAL
Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.
ACORDO ORTOGRÁFICO
Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.
LITERATURA BRASILEIRA
Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.
LEITOR
O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.







"Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir", disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre o Tibet

TENDÊNCIAS/DEBATES

Brumas do Tibete
ALDO PEREIRA

Quem apóia a campanha do dalai-lama deveria, primeiro, perguntar se eventual restauração instituiria direitos humanos no Tibete
O POVO tibetano acredita descender de um macaco criado por Avalokitesvara ("senhor que observa o mundo") e baixado a este plano inferior, onde gerou seis híbridos numa demônia que o seduziu. A nação tibetana reverencia Tenzin Gyatso, 72, como "emanação" (manifestação corpórea) desse macaco primordial. Tal linhagem legitima seu título de dalai-lama, sumo sacerdote e monarca do Tibete. (Dalai, "[profundo e grande como] oceano"; lama, "superior [de mosteiro]".)
Tibetanos alegam razões de religião e identidade nacional como essas para pleitear o retorno do dalai-lama. Mas, tirante o clero, poucos pretendem ver restaurada a ordem social que ele regia.
No século 8, o Tibete anexou ou avassalou várias nações da Ásia Central, inclusive a China, que teve a capital saqueada em 763. Na gangorra da história, o Império Mongol ascendeu e suplantou o tibetano. No século 13, foi a China que impôs ao Tibete e à Mongólia a vassalagem, que ela interpreta como anexação.
Durante os sete séculos seguintes, a China negligenciaria colonizar o remoto Tibete. No século 19, o Império Chinês era baleia ferida e acossada por tubarões. Cedeu metade do território a potências européias, que ainda lhe extorquiram privilégios comerciais no resto do país, e puniram recalcitrâncias com invasão e mais extorsões. A conseqüente desmoralização da monarquia propiciou a revolução republicana de 1911-12.
Pescando nessas águas agitadas, o Tibete declarou independência. A China não reagiu, afligida então, e nas décadas seguintes, por calamidades de fome e uma enxurrada de sangue: rebeliões e guerra civil entre comunistas e nacionalistas. Os dois blocos se aliaram em 1937-45 para repelir a invasão japonesa, mas depois voltaram a guerrear entre si até 1949, quando os comunistas assumiram o controle do território continental.
Em 1951, o exército chinês ocupou o Tibete, e quadros comunistas assumiram a administração. Na teocracia deposta, sacerdotes e nobres possuíam todas as terras e demais meios de produção. Camponeses, nômades, pequenos comerciantes e mendigos formavam minoria relativamente livre da plebe. Desta, uns 90% eram servos; outros 5%, escravos.
O amo sustentava o escravo, que prestava serviços domésticos e não produzia, mas não o servo. Ambos passavam sua condição aos filhos. A lei sancionava mutilações e outras torturas. Deficiências de higiene e nutrição matavam quase metade dos bebês no primeiro ano de vida. Não havia escola pública. A taxa de analfabetismo chegava a 90%.
Em lugar de partidos, disputavam então o poder diferentes seitas budistas. Como o celibato o priva de herdeiro, a morte de um dalai-lama enseja processo sucessório que consiste em reconhecer "emanação" (reencarnação) do morto em algum menino tibetano. Lamas de alta hierarquia promovem a busca segundo oráculos, visões e pistas crípticas legadas pelo antecessor.
Em troca de autonomia, o dalai-lama reconheceu a soberania chinesa em 1951. Mas, no contexto da Guerra Fria, a Agência Central de Inteligência do governo americano (CIA) passou a prover insurretos tibetanos de treinamento e armas.
Em 1959, o Exército chinês reprimiu uma rebelião com brutal eficiência. O dalai-lama, que deixara a capital pouco antes, fugiu para a Índia. A organização dos tibetanos que o acompanharam admitiria depois que, na década de 1960, recebia da CIA estipêndio anual de 1,7 milhão de dólares ("New York Times", 2/10/1998).
O dalai-lama não reivindica independência para o Tibete, apenas autonomia (leia: restauração dos privilégios). Enquanto isso, o governo central coloniza a região mediante imigração favorecida de chineses das etnias han (dominante na China) e hui (minoria muçulmana). Nos distúrbios de março, tibetanos hostis aos imigrantes incendiaram lojas e outras propriedades desses "estrangeiros".
Quem apóia a campanha do dalai-lama deveria, primeiro, perguntar se eventual restauração instituiria direitos humanos no Tibete. Segundo, perceber que a estratégia de incitar tibetanos à revolta meramente agrava sua opressão, porque o governo chinês não cederá: é imune a sanções diplomáticas ou econômicas e sabe que o interesse comercial do mundo na China torna quixotesca a proposta de boicote da Olimpíada.
Outras minorias étnicas da China, além da tibetana, concorrem à liberdade na arena política desta Olimpíada. Mas nenhuma delas será livre enquanto a própria China não for.


ALDO PEREIRA , 75, é ex-editorialista e colaborador especial da Folha.
aldopereira.argumento@uol.com.br

quarta-feira, 26 de março de 2008

Indicação

Boas indicações de trabalhos sobre a História brasileira escrita por jornalista:


Todos do Elio Gáspari.

1808 II

Terminei a leitura do livro 1808 de Laurentino Gomes. Continuo recomendand0 a leitura aos meus alunos que vão enfrentar vestibulares. Ele apresenta um bom apanhado da época, nada com muita profundidade, bem ao nível de uma formação mediana.

Agora o livro é decepcionante, mesmo com as ressalvas feitas pelo autor de que sua praia é o jornalismo. O que esperamos de um jornalista freqüentador da grande imprensa? Que seja dono de um bom cabedal do que chamamos de cultura geral. Nesse sentido, o autor é pobre. Mesmo que seus propósitos não fossem os de descer aos arcabouços da análise historiográfica, uma obra que versa sobre a História poderia ao mínimo sugerir indagações, pontos de vistas, indicações sobre os temas tratados, situações que sugerissem ao leitor até o desejo de maiores vôos ou aprofundamentos. Nesse sentido, o livro é pobre. E, pior, quando o autor se propõe a essa aventura, se revela paupérrimo. Um deles já indiquei no outro comentário: aquele de sugerir a fuga de nossas elites empresariais e políticas após uma invasão argentina sobre nosso território. Há muitos outros, o que, de certo modo, revela que o autor, parece desconhecer o básico da própria história brasileira. Não vou indicá-los aqui. Deixo isso para os leitores potenciais deste livro.

Antes de terminar, entretanto, saliento o clima de tragédia de péssima qualidade que representam os dois últimos capítulos. No penúltimo, o autor tratando de um dos personagens citado várias vezes em seu livro, revela que ele teve um segredo desvendado 200 anos depois por suas pesquisas. Pensei eu: -bem teremos um término ao menos com "chave de ouro". Minha curiosidade aumentou quando na segunda frase do último capítulo intitulado "O Segredo" o autor afirma: "O que vem a seguir interessa especialmente aos historiadores". Feita a leitura do capítulo inteiro posso dizer: interessa sim, aos que enxergam a História como um amontoado de fofocas, pois trata-se de uma suposta comprovação do nascimento de um filho antes do casamento do personagem em questão. Suposta comprovação, porque a fonte que possibilitou ao autor essa conclusão foi uma pesquisa realizada num megasearch mórmon que se propõe a realizar genealogias on-line. Pobre D. João.

domingo, 16 de março de 2008

João Cabral

A Folha de São Paulo está com uma coleção de literatura brasileira nas bancas ao preço de R$14,90. Tudo excelente: encadernação, papel, requinte. Vale a pena o investimento. Estou comprando alguns títulos que ainda não tenho ou que pretendo substituir pelo antigo. Aproveito o tempo de ÓCIO para ler de maneira aleatória alguma coisa. Peguei o João Cabral, Morte e Vida Severina. Perdi a conta de quantas vezes assisti a essa peça, mas não importa permanece sempre atualíssima. Na edição da Folha há também outros poemas maravilhosos. Veja este:

Vi muitos arrabaldes
ao atravessar o Recife:
alguns na beira da água,
outros em deitadas colinas;
muito no alto de cais
com casarões de escadas para o rio;
todos sempre ostentando
sua ulcerada alvenaria;
todos porém no alto
de sua gasta aristocracia;
todos bem orgulhosos,
não digo de sua poesia,
sim, da história doméstica
que estuda descobrir, nestes dias,
como se palitavam
os dentes nesta freguesia.


Brilhante, sutil, irônico... verve de gênio.

sábado, 15 de março de 2008

1808

Estou lendo o livro 1808 do jornalista Laurentino Gomes da Editora Planeta. Trata-se de mais uma obra destinada ao grande público, sem maiores pretensões, assim mesmo recomendo a leitura. O autor foi honesto, na apresentação indica não ter trabalhado com fontes primárias, essencial no trabalho historiográfico. Esclarece que organizou seu texto a partir da leitura de 150 livros sobre o assunto estabelecendo assim uma grande síntese.

O leitor não deve se assustar com o tamanho do livro. São ao todo 351 páginas, mas a fonte utilizada deve ser tamanho 12 ou 14. Além disso, a escrita é fluente e bem encadeada, fato que estimula à atenção até o final.

Pessoalmente achei sofrível a citação que reproduzo a seguir retirada do primeiro capítulo.

Imagine que num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para a Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estado Unidos. Com ele teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores líderes empresariais. E mais: a esta altura, tropas da Argentina já estariam marchando sobre Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília.

Em primeiro lugar, creio que o povo brasileiro se sentiria aliviado com a fuga dos donos do poder para um lugar distante. Eu iria para as ruas comemorar. Em segundo lugar, tropas argentinas invadindo o Brasil... forçou a barra... achei ridículo.

domingo, 28 de outubro de 2007

Guerra - Fria

Panorâmica da Guerra Fria


A Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz, impossível. Com essa frase, o pensador Raymond Aron definiu o período em que a opinião pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a União Soviética.
A divisão do mundo em dois blocos, logo após a Segunda Guerra Mundial, transformou o planeta num grande tabuleiro de xadrez, em que um jogador só podia dar um xeque-mate simbólico no outro. Com arsenais nucleares capazes de destruir a Terra em instantes, os jogadores, Estados Unidos e União Soviética, não podiam cumprir suas ameaças, por uma simples questão de sobrevivência.

A paz era impossível porque os interesses de capitalistas e de comunistas eram inconciliáveis por natureza. E a guerra era improvável porque o poder de destruição das superpotências era tão grande que um confronto generalizado seria, com certeza, o último. Hoje, podemos ver isso claramente. Mas, na época, a situação se caracterizava como o equilíbrio do terror.

Quando começou e quando terminou a Guerra Fria
Não existe um consenso sobre a data exata do início da Guerra Fria. Para alguns estudiosos, o marco simbólico foi a explosão nuclear sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Outros acreditam que seu início data de fevereiro de 1947. Foi quando o presidente norte-americano Harry Truman lançou no Congresso dos Estados Unidos a Doutrina Truman, que previa uma luta sem tréguas contra a expansão comunista no mundo. E há também estudiosos que lembram a divisão da Alemanha em dois Estados, em outubro de 1949. O surgimento da Alemanha Oriental, socialista, estimulou a criação de alianças militares dos dois lados, tornando oficial a divisão da Europa em dois blocos antagônicos. Poderia ser esse o marco inicial da Guerra Fria. Não há consenso também sobre quando terminou a Guerra Fria. Alguns historiadores acreditam que foi em novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim, um dos grandes símbolos do período de tensão entre as superpotências. Nessa mesma perspectiva, o marco final da Guerra Fria poderia ser a própria dissolução da União Soviética, em dezembro de 1991, num processo que deu origem à Comunidade dos Estados Independentes. E outros analistas, ainda, consideram que o período terminou não em dezembro, mas em fevereiro de 1991, quando os Estados Unidos saíram da Guerra do Golfo como a maior superpotência de uma nova Ordem Mundial.
"Quando se tenta delimitar os marcos da Guerra Fria, as pessoas escolhem datas que enfatizam aquilo que lhes parece ser o mais importante. Por exemplo, aqueles que acham que a questão nuclear é o principal, dirão que a Guerra Fria começou em 1945, com Hiroshima e Nagasaki, e terminou em 72, com os acordos do Salt-1.
Para aqueles que acham que o principal foi a relação entre os blocos, os marcos serão, provavelmente, a Doutrina Truman, em 1947, e a queda do Muro de Berlim, em 1989. Mas a Guerra Fria foi muito mais do que apenas uma disputa armamentista ou geopolítica. Ela teve uma importante dimensão cultural, que colocou em movimento um jogo simbólico do Bem contra o Mal.
Ela mexeu com a imaginação das pessoas, criou e reforçou preconceitos, ódios e ansiedades. Nesse sentido mais amplo, dois marcos parecem ser mais adequados quando se trata de dar à Guerra Fria o seu conteúdo simbólico mais abrangente: o seu início foi a conquista de um novo poder, a bomba atômica, e o seu fim foi a Guerra do Golfo, quando os Estados Unidos escolheram outros símbolos do Mal para ocupar o lugar que antes pertencia ao comunismo, como o chamado fanatismo islâmico ou o narcotráfico." (José Arbex, jornalista).

Socialismo e capitalismo: dois ideais de felicidade
A Guerra Fria se manifestou em todos os setores da vida e da cultura, representando a oposição entre dois ideais de felicidade: o ideal socialista e o ideal capitalista. Os socialistas idealizavam uma sociedade igualitária. O Estado era o dono dos bancos, das fábricas, do sistema de crédito e das terras, e era ele, o Estado, que deveria distribuir riquezas e garantir uma vida decente a todos os cidadãos. Para os capitalistas, o raciocínio era inverso. A felicidade individual era o principal. O Estado justo era aquele que garantia a cada indivíduo as condições de procurar livremente o seu lucro e construir uma vida feliz. A solução dos problemas sociais vinha depois, estava em segundo plano. É por isso que a implantação de um dos dois sistemas, em termos mundiais, só seria viável mediante o desaparecimento do outro. Nenhum país poderia ser, ao mesmo tempo, capitalista e comunista. Esta constatação deu origem ao maior instrumento ideológico da Guerra Fria: a propaganda.
A força da propaganda
A partir do final dos anos 40 e nas décadas de 50 e 60, o mundo foi bombardeado com imagens que tentavam mostrar a superioridade do modo de vida de cada sistema. Para ridicularizar o inimigo, os dois lados utilizavam muito a força das caricaturas. A propaganda serviu para consolidar a imagem do mundo dividido em blocos. A novidade era o surgimento do bloco socialista na Europa, formado pelos países com governos de orientação marxista: Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Iugoslávia, Albânia e Bulgária. No mundo ocidental, os capitalistas procuravam mostrar que do seu lado a vida era brilhante. As facilidades tecnológicas estavam ao alcance de todos. Os cidadãos comuns possuíam carros e bens de consumo, tinham liberdade de opinião e de ir e vir. Segundo a propaganda ocidental, a vida no lado socialista, retratada em diversos filmes de Hollywood, era triste e sem brilho, controlada pela polícia política e pelo Partido Comunista. No mundo socialista, as imagens mostravam exatamente o contrário. A vida no socialismo era alegre e tranqüila. Os trabalhadores não precisavam se preocupar com emprego, educação e moradia. Tudo era garantido pelo Estado. A cada dia, as novas conquistas tecnológicas, especialmente na área militar e espacial, mostravam a superioridade do socialismo. A propaganda socialista mostrava, ainda, o mundo ocidental como decadente e individualista, onde o capitalismo garantia, para alguns, uma vida confortável. E para a maioria, uma situação de miséria, privações e desemprego.

O mundo em perigo: armamentismo e corrida espacial
A guerra da propaganda ganhou ainda mais impulso com o acirramento da corrida armamentista, nos anos 50. A corrida teve início com a explosão das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Quatro anos depois, em 49, foi a vez de a União Soviética anunciar a conquista da tecnologia nuclear. Foi o mesmo ano da criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN. A resposta viria em 1955, quando a União Soviética construiu sua própria aliança, o Pacto de Varsóvia. As superpotências passaram a acumular um poder nuclear capaz de aniquilar o planeta em instantes.
Um componente fundamental da corrida armamentista foi a disputa pelo espaço. Em 1957, os soviéticos colocaram em órbita da Terra o primeiro satélite construído pelo homem, o Sputnik-1. Em 61, os soviéticos fariam uma nova demonstração de avanço tecnológico: lançaram o foguete Vostok, a primeira nave espacial pilotada por um ser humano. O jovem cosmonauta Yuri Gagarin viajou durante cerca de 90 minutos em órbita da Terra, a uma altura média de 320 quilômetros.
Os Estados Unidos reagiram. Num histórico discurso em maio de 61, o presidente John Kennedy prometeu que, em menos de 10 anos, um astronauta norte-americano pisaria o solo da Lua. Toda a estrutura tecnológica e científica foi direcionada para o programa espacial. Cumprir a promessa de Kennedy era mais do que um desafio científico: era um compromisso político.
Em 20 de julho de 1969, o grande momento: o astronauta Neil Armstrong, comandante da missão Apollo-11, e o piloto Edwin Aldrin pisam o solo lunar. A conquista norte-americana foi transmitida ao vivo pela TV, e acompanhada por mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo.
É claro que a corrida espacial tinha também, desde o começo, um significado militar. Se um foguete podia levar ao espaço uma cachorrinha como a Laika, sem dúvida poderia transportar equipamentos bem menos inofensivos, como ogivas nucleares. A combinação da tecnologia nuclear com as conquistas espaciais colocou o mundo na era dos mísseis balísticos intercontinentais. Um míssil disparado em Washington, por exemplo, poderia atingir Moscou em cheio em apenas 20 minutos. O aperfeiçoamento constante das armas acentuou a corrida armamentista. A conquista sistemática de novas tecnologias, nos dois blocos, incentivou o desenvolvimento de um ofício milenar: a espionagem.

CIA x KGB
A espionagem foi um dos aspectos da Guerra Fria mais explorados pelo cinema. O espião mais famoso das telas, James Bond, criado por um ex-agente do serviço secreto britânico, Ian Fleming, vivia aventuras glamourosas e bem distantes da realidade. No mundo real, as duas grandes agências de espionagem, a KGB soviética e a CIA americana, treinavam agentes para atos de sabotagem, assassinatos, chantagens e coleta de informações. Nos dois lados criou-se um clima de histeria coletiva, em que qualquer cidadão poderia ser acusado de espionagem a serviço do inimigo. Na União Soviética, Stalin contribuiu para esse clima, confinando muitos de seus adversários em campos de concentração na Sibéria. Nos Estados Unidos, o senador anticomunista Joseph McCarthy promoveu uma verdadeira caça às bruxas, levando ao desespero inúmeros intelectuais e artistas de Hollywood, acusados de colaborar com Moscou.
Um dos momentos dramáticos da história da espionagem na Guerra Fria aconteceu em 1962. O presidente americano, John Kennedy, reagiu duramente contra a iniciativa soviética de instalar uma plataforma de mísseis em Cuba. Chegou a advertir o líder soviético Nikita Khruschev de que usaria armas nucleares se fosse necessário. Depois de três semanas, a União Soviética recuou. Durante esse tempo, o mundo viveu o pavor de um confronto nuclear entre as superpotências.


O terrorismo ganha força
O clima de terror que pairava no mundo não era simples paranóia. Nada disso. Havia realmente a sensação que a vida humana poderia deixar de existir de um momento para outro, se um dos lados apertasse o célebre "botão vermelho". Nesse clima, o diálogo político foi bastante prejudicado. Era difícil falar em negociações de paz com os dois blocos apontando mísseis um para o outro. Esse equilíbrio baseado na força contribuía para aumentar o descrédito dos políticos junto à opinião pública.

Na época da Guerra Fria, a falta de confiança na classe política era problemática. O ambiente internacional, contaminado pelo relacionamento pouco amistoso entre as superpotências, contribuía para a expansão de um dos maiores obstáculos à paz no mundo: o terrorismo. O uso da força e o terror estão presentes em todo o século XX. Mas, foi no período da Guerra Fria que se multiplicaram as ações de grupos radicais. Organizações antigas, como o grupo basco ETA e o IRA, Exército Republicano Irlandês, intensificaram suas atividades.

No Oriente Médio, a OLP, Organização para a Libertação da Palestina, surgiu em 64 e centralizou as atividades de diversos grupos radicais palestinos. Nos anos 70, as Brigadas Vermelhas, na Itália, e o grupo Baader-Meinhof, na Alemanha, formados por estudantes e intelectuais, praticaram atentados desvinculados de compromissos políticos ou ideológicos.
O terrorismo assustou muito os países da Europa nos anos 70. Diante do terror não há paÍses atrasados ou adiantados, fortes ou fracos. Todo o planeta sente a mesma insegurança sob o fantasma constante de bombas lançadas contra pessoas inocentes. O fato de o terrorismo atingir em cheio os países desenvolvidos deixava temporariamente em segundo plano uma visão imperialista muito utilizada pelas superpotências nos anos 60, que dividia o planeta em Primeiro Mundo e Terceiro Mundo.

O termo "Terceiro Mundo", surgido nos anos 40, designa um conjunto de mais de cem países da África, Ásia e América Latina que não faz parte do grupo de países industrializados do Primeiro Mundo, e nem do grupo de países socialistas do Segundo Mundo. Com o tempo, no entanto, os termos "Primeiro Mundo" e "Terceiro Mundo", passaram a ser empregados como um conceito econômico, dividindo o planeta em grupos de países ricos e pobres. Foram justamente os países ricos da Europa o cenário principal da Guerra Fria, por razões de natureza histórica e geográfica. Mas as outras regiões do planeta foram incluídas no xadrez das superpotências por conta da própria lógica do jogo, que previa a destruição completa de um dos dois jogadores.

A Guerra Fria na Ásia
Uma dessas regiões, a Ásia, entrou de forma espetacular nesse contexto. Foi em 1949, quando o líder comunista Mao Tsé-tung tomou o poder na China, um país que na época contava 600 milhões de habitantes. O comunismo chinês alterou o equilíbrio geopolítico no continente asiático. A revolução de Mao Tsé-tung encorajou a Coréia do Norte a atacar a Coréia do Sul, em 1950.
A guerra, que teve a intervenção militar dos Estados Unidos, durou 3 anos e causou a morte de mais de dois milhões de pessoas. Na época, a Índia, que havia conquistado sua independência em 1947, mantinha-se neutra, sem aderir a nenhum dos grandes blocos econômicos. Em 1954, foi a vez de a França sofrer uma derrota humilhante na Ásia, durante a Guerra da Indochina. A vitória do líder comunista vietnamita Ho Chi Min consolidou a formação do Vietnã do Norte e aumentou a preocupação dos Estados Unidos com o rumo político dos países do sudeste asiático.

Alarmado com a expansão comunista na região, o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, envolveu seu país na Guerra do Vietnã, em 1960. Depois de treze anos de batalhas, a maior superpotência do planeta seria derrotada por soldados pobremente armados e por guerrilheiros camponeses munidos de facas e lanças de bambu. Os Estados Unidos perderam a guerra não pelas armas, mas pela falta de apoio da opinião pública de todo o mundo, em particular da americana.

A oposição à Guerra do Vietnã foi uma das bandeiras dos jovens no final dos anos 60, quando explodiram, nos dois blocos, movimentos por liberdade e democracia. No lado ocidental, em 68, os jovens saíram às ruas em Paris e em outros centros importantes, como Londres e São Francisco. No Brasil, os protestos foram principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Todas essas manifestações culminaram num grande evento pacifista, contra a Guerra do Vietnã e o racismo: o Festival de Woodstock, realizado numa fazenda no estado de Nova York, em agosto de 69. No lado socialista, o movimento atingiu o auge com a Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, em 1968. A luta pela democracia naquele país foi duramente reprimida pelas forças do Pacto de Varsóvia.

A Guerra Fria no Oriente Médio
A Guerra Fria envolveu também uma das áreas mais fascinantes e estratégicas do planeta: o Oriente Médio. Habitada desde tempos imemoriais, a região destaca-se por três razões. Do ponto de vista econômico, é a mais rica em reservas de petróleo. Do ponto de vista geopolítico, serve de passagem entre Ásia e Europa. E no aspecto cultural, é o berço das três principais religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Com todas essas características, o Oriente Médio tornou-se um dos centros nevrálgicos da Guerra Fria. O interesse pela região já era visível nos anos 40, quando as principais potências mundiais negociaram a criação do Estado de Israel, em 1948. Havia muitos interesses geopolíticos em jogo no Oriente Médio. A União Soviética, de um lado, e os Estados Unidos, de outro lado, acreditavam que Israel poderia se tornar um importante parceiro político na região. Os palestinos e os países árabes vizinhos, no entanto, nunca aceitaram a criação de Israel. A primeira guerra árabe-israelense, vencida por Israel em 1949, teve como conseqüência o fim do Estado árabe-palestino. Foi dividido entre Israel, Jordânia e Egito. Nas décadas seguintes, outras três guerras modificariam o panorama geopolítico do Oriente Médio. Por trás de cada conflito estava um jogo de alianças internacionais que evidenciava o interesse das superpotências na região. Somente em 1993, quando Israel e a OLP assinaram um acordo de paz, é que se acendeu uma pequena luz de esperança na região.
Em outra parte do Oriente Médio, no entanto, havia um elemento complicador: em 1979, o Irã converteu-se ao islamismo xiita, com pretensões de levar o mundo na direção da fé muçulmana. Uma situação que fugia à lógica da Guerra Fria. O aiatolá Khomeini tratava Estados Unidos e União Soviética como o Grande Satã, como inimigos que deveriam ser combatidos em nome do Islã.
A revolução iraniana era um fato novo no cenário internacional no fim dos anos 70. Até hoje, terminada a Guerra Fria, o Islã continua sendo um grande enigma contemporâneo. A Guerra Fria, na verdade, permeou os principais fatos políticos no mundo inteiro, desde o término da Segunda Guerra até o final dos anos 80. O complexo jogo das superpotências envolveu todos os continentes, inclusive a África.

A Guerra Fria na África
Havia um motivo peculiar para o interesse dos países desenvolvidos pela África: as ditaduras africanas, miseráveis e violentas, eram excelentes compradoras de armas. Só por esse fato o continente ganhou destaque no panorama global do período. Na África, a Guerra Fria foi particularmente acirrada pelo fim do colonialismo português, em 1975. A saída de Portugal abriu caminho para o surgimento de regimes comunistas em Angola e Moçambique, e para a deflagração de conflitos tribais em diversos países do continente. As disputas internas e regionais estimularam os governantes a investir em armas poderosas, apesar da situação de miséria de suas populações.
A Guerra Fria na América Latina
Na verdade, no chamado Terceiro Mundo era a América Latina o principal foco de atenção das superpotências. Esse interesse, natural por causa da proximidade geográfica dos Estados Unidos, aumentou bastante a partir de 1959, quando Fidel Castro chegou ao poder em Cuba. A partir desse momento, não demorou para que as superpotências se preocupassem com o Brasil, o maior país da América Latina. O golpe militar no Brasil, em março de 64, atendia à estratégia política dos Estados Unidos para a América Latina. A Casa Branca tinha medo que de a revolução cubana, que resultou num regime socialista, se espalhasse pelas Américas. Por causa disso, passou a patrocinar ditaduras em toda a América Latina. No Brasil, o quadro político e econômico favorecia os conspiradores. O presidente João Goulart era apontado como simpatizante do socialismo e a economia do país estava em crise, com índices elevados de inflação. Nos anos que se seguiram ao golpe de 64, o regime militar tornou-se mais forte e repressivo. O Ato Institucional número 5, de 1968, restringiu as liberdades democráticas e deu ao regime poderes quase irrestritos para governar, prender, torturar e eliminar adversários.
A ditadura militar, conseqüência direta da Guerra Fria, teve um nítido impacto negativo na vida cultural. Durante duas décadas, o governo censurou a imprensa, a literatura e as artes de um modo geral. Experiências inovadoras, como o Tropicalismo, e o talento de artistas como Chico Buarque, Geraldo Vandré e Augusto Boal, entre muitos outros, foram sufocados pela censura imposta pelo regime.
Nos anos 80, ganharam força os movimentos pela democratização no Brasil, com o movimento pelas Diretas-Já, e em outros países sul-americanos, como o Paraguai, o Chile, o Uruguai e a Argentina.
No Brasil, o grande marco da volta à democracia foi o restabelecimento da eleição direta para presidente da República, em 1989. E também nos anos 80 começava a se configurar o quadro político internacional que viria a culminar no fim da Guerra Fria, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, em 89. O fim do muro foi resultado do intenso processo de reformas na União Soviética, iniciado em 85 pelo dirigente Mikhail Gorbatchev.


Gorbatchev e o fim da Guerra Fria
No plano econômico, Gorbatchev instituiu a Perestroika, ou Reconstrução, buscando novas formas de conduzir a economia soviética. No plano político, retomou negociações para pôr fim à corrida armamentista. Internamente, libertou opositores do regime, viabilizou o abrandamento da censura e permitiu que os problemas fossem discutidos abertamente pela população. As reformas iniciadas em Moscou logo se refletiram na Europa socialista, onde os movimentos democráticos ganharam força para mudar todo o panorama político do antigo bloco soviético. Esse processo iniciado por Gorbatchev culminou no fim da própria União Soviética, em 1991. A partir daí, os Estados Unidos, vencedores da Guerra Fria, tornaram-se a única superpotência mundial e encontraram novos inimigos contra os quais lutar, como os fanáticos do Islã, de um lado, e os narcotraficantes, de outro lado. Ou seja, novos elementos para a mesma fórmula do Bem e do Mal dos tempos da Guerra Fria. É um mundo que enfrenta novos problemas, como o ressurgimento de conflitos nacionais e étnicos; a disputa entre blocos econômicos; e as grandes máfias que controlam o crime organizado internacional. Para entender esse mundo temos de voltar nossos olhos ao passado recente e fazer uma reflexão que, talvez, nos indique o caminho para um futuro melhor.
Bibliografia
ALLARD, Michel & LEFEBVRE, André. A História e seu ensino. Coimbra: Almedina, 1976.
BARROS, Edgar de. A Guerra fria. São Paulo/Campinas: Atual/Unicamp, 1984.
PEDRO, Antonio. A Segunda guerra mundial. São Paulo/Campinas: Atual/Unicamp, 1985.
CAMARGO, Dulce M. P. & ZAMBONI, Ernesta. A criança, novos tempos, novos espaços: a história e a geografia na escola. Em aberto. Brasília, v.7, n.37, jan./mar.1988.
FENELON, Déa. A Guerra fria. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Tudo é História, 64)
NEVES, Maria A. Mamede. Ensinando e aprendendo história. São Paulo: E.P.U., 1985.
PEDRO, Antonio. A Segunda guerra mundial. São Paulo/Campinas: Atual/Unicamp, 1985.
PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do ensino de história e geografia. São Paulo: Cortez, 1990.

Filmografia
Apocalypse Now (Apocalypse Now, EUA, 1979) Direção: Francis Ford Coppola. Elenco: Marlon Brando, Martin Sheen, Robert Duvall.
A Arena da Morte (The Arena Murder, Israel, 1996) Direção: Amos Gitai. Elenco: Lea Rabin, Aviv Geffen, Samuel Calderon.
Através das Oliveiras (Zire Darakhatan Zeyton, Irã, 1994) Direção: Abbas Kiarostami. Elenco: Mohamad Ali Keshavarz, Farhad Kheradmand, Zarifeh Shiva.
Cabra Marcado Para Morrer (Brasil, 1984) Direção: Eduardo Coutinho. Documentário.
Corações e Mentes (Hearts and Minds, EUA, 1974) Direção: Peter Davies. Documentário.
Daqui a Cem Anos (Thing to Come, Inglaterra, 1936) Direção: William Cameron Menzies. Elenco: Raymond Massey, Edward Chapman, Ralph Richardson.
O Dia Seguinte (The Day After, EUA, 1983) Direção: Nicholas Meyer. Elenco: Jason Robards, JoBeth Williams, Steve Guttenberg.
Doutor Jivago (Doctor Zhivago, EUA, 1965) Direção: David Lean. Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin.
Em Nome do Pai (In the Name of the Father, Irlanda/Inglaterra/EUA, 1993) Direção: Jim Sheridan. Elenco: Daniel Day-Lewis, Emma Thompson, Pete Postlethwait.
Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potymkin, URSS, 1925) Direção: Sergei M. Eisenstein. Elenco: Alexander Antonov, Vladimir Barsky, Grigori Alexandrov.
Guantanamera (Guantanamera, Cuba/Espanha, 1994) Direção: Tomás Gutiérrez Alea, Juan Carlos Tabío. Elenco: Carlos Cruz, Mirtha Ibarra, Jorge Perugorría.
A Hollywood Vermelha (Red Hollywood, EUA, 1995) Direção: Thom Andersen e Noël Burch. Documentário.
Jango (Brasil, 1984) Direção: Sílvio Tendler. Documentário.
Lucia (Lucia, Cuba, 1969) Direção: Humberto Solas. Elenco: Ramón Brito, Adela Legra, Adolfo Llauradó.
Missing - O Desaparecido (Missing, EUA, 1982) Direção: Costa-Gavras. Elenco: Jack Lemmon, Sissy Spacek, Melanie Mayron.
The Monkey Kid - Os Filhos da Revolução (The Monkey Kid, China/EUA, 1995) Direção: Xiao-Yen Wang. Elenco: Di Fu, Fang Shu, Guang Yang.
A Pequena Vera (Malenkaya Vera, URSS, 1988) Direção: Vassili Pitchul. Elenco: Natalya Begoda, Andrei Sokolov, Lyudmila Zaitseva.
O Poder de Um Jovem (The Power of One, EUA/França/Alemanha, 1992) Direção: John G. Avildsen. Elenco: Stephen Dorff, Morgan Freeman, Armin Mueller-Stahl.
Sarafina! (Sarafina!, África do Sul, 1992) Direção: Darrell James Roodt. Elenco: Leleti Khumalo, Whoopi Goldberg, Miriam Makeba.
007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, Inglaterra, 1962) Direção: Terence Young. Elenco: Sean Connery, Ursula Andress, Joseph Wiseman.



domingo, 21 de outubro de 2007

República Velha

República Velha

República da espada (1889-1894)

Significado da implantação da república: ela surgiu muito mais devido às dificuldades do império que da existência de uma consciência coletiva. Abriram-se novas oportunidades para
o exército e para os cafeicultores.

Governo provisório de Deodoro (1889-1891): promulgação da constituição de 1891 com as seguintes características:
liberal (o estado de sítio era um instrumento repressivo para ser usado em casos de emergência)
manutenção do sistema de propriedade vigente
ausência de legislação social (a constituição se atém aos aspectos políticos da organização do país)
voto “universal” masculino e aberto (instrumento fundamental para as elites agrárias assegurarem a sua dominação)
secular (separação igreja e estado)
federalista (o que assegurava às oligarquias o controle da política regional já que os estados eram autônomos)

Governo constitucional de Deodoro (1891): eleito pelos constituintes (indiretamente), seu governo representou a necessidade da presença militar para consolidar o novo regime. Influenciado pelo ideal positivista e pelas classes médias urbanas buscou, sem sucesso, uma política de modernização do país. Sucessivos confrontos com as elites políticas de SP e com a marinha fizeram-no renunciar.
Encilhamento (ministro Ruy Barbosa): tentativa de estimular a criação de empresas industriais e comerciais através de uma política emissionista e de empréstimos externos. Acabou gerando um movimento especulativo e a criação de diversas “indústrias fantasmas” devido a ausência de mecanismos de controle.
Governo de Floriano Peixoto (1891-94): contando com apoio fanático de setores progressistas urbanos e militares, ele conseguiu reprimir as revoltas armadas do período e garantiu a consolidação do novo regime (marechal de ferro). Nas eleições de 1894, Floriano apoia a oligarquia cafeeira que o sustentou nos momentos decisivos. Revoltas do período Floriano Peixoto (1893):
Revolta da armada: movimento monarquista liderado por Custódio de Melo e Saldanha da Gama duramente reprimido pelo presidente com apoio dos cafeicultores paulistas
Revolução federalista: luta política entre as elites locais do RS. Júlio Castilhos defendia o governo central e liderava o grupo republicano (chimangos). Gaspar Martins defendia a descentralização do poder e liderava o grupo federalista (maragato). A vitória final coube aos castilhistas com apoio de Floriano.


República Oligárquica (1894-1930) 1) Quadro político:


Coronelismo - mandonismo local das elites agrárias garantido pela inexistência de justiça eleitoral e pelo voto aberto. A manipulação do voto e a fraude eram a norma (voto de cabresto)
Política dos governadores” - Durante o governo de Campos Sales (1898-1902) estabeleceram-se acordos com os governos estaduais a fim de garantir congressos dóceis às diretrizes presidenciais. Os acordos foram firmados a partir da necessidade de negociar a dívida externa (funding loan), herança recebida do encilhamento. Em troca o presidente não interviria em assuntos locais. Esta política beneficiava, principalmente, os estados mais ricos.
Política do café com leite” - Acordo das duas oligarquias mais poderosas do país (SP e MG) para escolher o presidente
A política na república velha nunca levou o povo em conta. Ele era instrumento de um jogo que não participava.
Quadro econômico
Café - a principal atividade econômica do país vivia um grande problema desde o final do século XIX: superprodução. A solução só viria no governo Rodrigues Alves (1902-1906) através do convênio de Taubaté. O governo deveria se encarregar de comprar o excedente do café com financiamento estrangeiro.
Indústria - O café mais beneficiou que atrapalhou a indústria: ele criou mercado interno, desenvolveu a infra-estrutura e os cafeicultores foram os primeiros investidores. Durante a 1ª guerra mundial, o país teve um salto industrial devido ao “Processo de substituição de importações”


Crises na República dos Coronéis
Crise sociais (tratadas pelo governo dos coronéis como “casos de polícia”)
Zona rural: a massa rural brasileira vivia miseravelmente sob domínio dos grandes proprietários. A manifestação mais clara de sua revolta foram os movimentos messiânicos (Canudos na Bahia -1893/1897- e Contestado na fronteira de SC e PR ¬1912/1915). Estes movimentos tinham um caráter pré - político, com conteúdo fanático religioso e uma vaga tendência anti-republicana. Acreditavam que a solução de seus problemas era um líder que conduziria os homens para implantação do reino de Deus na terra.
A Guerra dos Canudos: O episódio dos Canudos foi um dos movimentos de cunho religioso que surgiram em áreas socialmente carentes e miseráveis, no final do século XIX e início do XX. O arraial se situava no interior da Bahia, em uma região isolada e de difícil acesso. Ali se estabeleceu, em 1893, o pedreiro cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de Antônio Conselheiro. Antes de se instalar na Bahia, o beato percorreu o sertão pregando, profetizando transformações e despertando a desconfiança das autoridades e do clero católico, que o acusavam de propagar doutrinas subversivas. Perseguido após a queima dos editais de cobranças de impostos em Bom Conselho, refugiou-se com seus fiéis em Canudos e reuniu uma grande massa de pobres ao seu redor, cerca de 30.000 pessoas. Na aldeia, levava-se uma vida comunal: cada família entregava metade de suas posses e mantinha roça e criação familiares, vivendo do seu trabalho e sustentando os desvalidos.

A comunidade seguia as orientações da Igreja e era regida por regras religiosas estritas; prostitutas eram expulsas; não se permitia o uso de bebidas alcoólicas nem o concubinato; rezava-se o "terço" todas as noites. Acreditavam-se na terra da promissão. As pressões contra a comunidade aumentaram após o relatório dos frades capuchinhos italianos caracterizá-la como uma seita político - religiosa, foco de superstição e fanatismo que dividia a Igreja baiana, núcleo perigoso de resistência e hostilidade à República. O governador Luís Vianna despachou uma tropa de 100 homens para dispersar o arraial, que foi derrotada.

A oposição pressionou e várias expedições punitivas foram derrotadas por aquele bando de sertanejos subnutridos e maltrapilhos. Depois da derrota e morte do Coronel Moreira César, o Exército tomou como ponto de honra submeter Canudos. Em 1897, a quarta expedição arrasou Canudos, dizimou sua população e degolou os prisioneiros. A civilização vencera a barbárie.
1.2-Zona urbana: O início da industrialização, especialmente durante a 1ªGM, provocou o surgimento do movimento operário. Inicialmente de tendência anarco-sindicalista (espontaneístas), o movimento acabou caminhando para o marxismo após a revolução de 1917 na Rússia e da fundação do PCB em 1922.


Crises militares
Revolta da chibata (1910): revolta da marinha liderada por João Cândido contra a miséria e a opressão.
movimento tenentista (1922-27): representa a insatisfação das camadas média. Os militares de baixa patente, distanciados dos privilégios do poder, acreditavam na necessidade da modernização do país (indústria, moralização política, ...) e na eficácia de um golpe de estado para conseguir isso. O principais movimentos foram: o levante do forte de Copacabana em 1922, a revolta paulista de 1924 e a coluna Prestes (1924-27).
As manifestações militares da década de 20 ficaram conhecidas como tenentismo, porque envolveram oficiais de nível médio do Exército, tenentes em sua maioria. Tiveram a influência das políticas de salvação das instituições republicanas, para reduzir o poder das oligarquias, no governo Hermes da Fonseca. Estavam descontentes com a estrutura de carreira, que dificultava a ascensão a postos mais altos e com o alto oficialato, que acusavam de conivente com as práticas oligárquicas e tão comprometido com a corrupção como os políticos civis. Os tenentes eram jovens formados nas escolas militares segundo orientação mais moderna. Portanto, ressentiam-se com o atraso e a rotina das Forças Armadas e com o distanciamento entre a cúpula e a tropa que os impediriam de exercer verdadeiramente a sua missão profissional.

Considerando-se parte da única instituição nacional e síntese do povo, defendiam a centralização política e se concebiam como defensores da nacionalidade e salvadores da pátria. Desconfiavam dos políticos e não acreditavam que o povo tivesse capacidade de lutar por seus próprios interesses. Pregavam reformas liberais para a plena realização da democracia, como o voto secreto e representação das minorias, que somente poderiam ser atingidas com a derrubada da oligarquia. Embora não tivessem uma plataforma definida e tampouco uma unidade de pensamento, defendiam o ensino primário e profissional gratuitos; reforma da Justiça; liberdade municipal; punição para os corruptos; economia do dinheiro público para ajudar as forças econômicas do país; proteção das riquezas nacionais contra o capital estrangeiro; estímulo ao desenvolvimento industrial. Depois da revolta de 1924, um setor do tenentismo radicalizou as suas posições quanto às reformas estruturais, como os rebeldes do Amazonas e, mais tarde, Luiz Carlos Prestes. Outros mantiveram a postura liberal e se aproximaram das oligarquias dissidentes.


Crises políticas:
Rompimento temporário da política do café com leite em 1910: campanha civilista. A morte de Afonso Pena antes de terminar seu mandato gerou uma crise sucessória. MG e RS apoiaram a candidatura de Hermes da Fonseca (militar) e SP e BA apoiaram Ruy Barbosa (civil). A vitória de Hermes (1910-1914) gerou um período de afastamento das oligarquias do poder (política das salvações).
Reação das oligarquias periféricas contra MG e SP em 1922: reação republicana. Lideradas pela Bahia, as oligarquias periféricas lançam a candidatura de Nilo Peçanha para enfrentar o candidato mineiro Arthur Bernardes. Apesar de derrotado, o movimento desnudou o esquema de fraude eleitoral.
O fim da república oligárquica: revolução de 1930. Em 1929, ocorreu a GRANDE DEPRESSÃO CAPITALISTA que desestruturou de vez a política do café com Leite. Nas eleições de 1930, SP trai MG e lança a candidatura de Júlio Prestes. MG, Pb e RS formam a aliança liberal e lançam Getúlio Vargas. Vargas foi derrotado mas acaba iniciando uma revolução com apoio dos tenentes (o assassinato de João Pessoa, candidato a vice na chapa de Getúlio, é considerado a causa imediata do movimento). A revolução significou a passagem de um Brasil arcaico para um país moderno. O estado, a partir de 1930, não seria mais controlado por oligarquias. Ele passaria a ter a função de árbitro dos diversos interesses dentro da sociedade br


domingo, 16 de setembro de 2007

Imperialismo

Imperialismo - Traços fundamentais:
1) a concentração da produção e do capital a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios: Trustes, Cartéis e Holdings.
2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse ‘capital bancário’, da oligarquia financeira;
3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias.
4) Busca por mercados consumidores e fornecedores de matérias primas.
5)Deslocamento da população excedente da Europa.
Colonialismo Séc. XVI
Áreas _ América
Potências _ Portugal e Espanha
Economia _ Mercantilismo
Objetivos _ Especiarias, Metais Preciosos, Matéria-Primas , Tráfico de Escravos
Agente _ Estado Moderno
Colonialismo Séc. XIX
Áreas _ África e Ásia
Potências _ INGL/FR/BÉL/HOL/ALE/ITA/EUA/JAPÃO
Economia _ Liberalismo
Objetivos _ Exportação de capitais; Mercados Consumidores; Matérias- Primas; Pontos Estratégicos.
Agente _ Burguesia
Justificativas Ideológicas: O Fardo do Homem Branco
- Os povos civilizados têm o direito de intervir sobre os outros como uma educação ou tutela, temporária ou permanente; há países e raças nos quais a civilização não pode nascer espontaneamente, devendo chegar por importação (Paul Leroy)
- Senhores é preciso falar abertamente que as raças superiores tem o dever de civilizar as raças inferiores (J. Ferry)
- Esta maneira de governar (colonialismo) é tão legítima como qualquer outra, se for a única que no estado atual da civilização do povo submetido mais lhe facilite a transição para estágio de aperfeiçoamento (Stuart Mill)
Conferência de Berlim (1885): Divisão da África entre as Grandes Potências
Predomínio da França e Inglaterra
Situações de Conflito:
França e Alemanha ° Marrocos
Bélgica exige o Congo
Guerra dos Bôeres ° Rivalidade entre bôeres (holandeses) e ingleses. Razão ° Descoberta de ouro e diamantes.
1910 ° Formação pela Inglaterra da República Sul-Africana.
Conseqüências Para a África: Criação de fronteiras artificiais; Saque das riquezas naturais; Estímulo de conflitos entre as diversas etnias; Miséria humana
Ásia
Áreas Submetidas:
Índia
- Protetorado Inglês (autoridades inglesas controlavam a administração local).
- Elites locais colaboravam com a dominação.
- Destruição de oficinas artesanais.
- Imposição dos produtos ingleses.
- Revolta dos Sipaios massacrada
China: Um Bom Negócio
A torta chinesa é dividida entre as potências Ingl., Alem, Rússia e FR
Para o Tio Sam a melhor política para a China era a das Porta Abertas
A Guerra do Ópio (1939-1842)
- Comércio altamente lucrativo (financeira e politicamente)
- Pretexto para a guerra: Destruição de 20 mil caixas de ópio na China
Derrotada a China entregou para a Inglaterra o Porto de Hong Kong (devolvido em 1997)
Até 1949 o Ópio foi tolerado na China, inclusive para servir aos representantes das potências ocidentais
Revolta dos Boxers “Punhos Fechados” (1899)
Caráter nacionalista seu maior feito foi impedir a fragmentação do território chinês.
Japão
- Exceção entre as vítimas
- Bombardeado por navios americanos em 1853
- ERA MEIJI (A Era das Luzes):
centralização do poder
formação de conglomerados econômicos
Guerra com a China [ conquista da Coréia
Guerra com a Rússia (1904/05)

domingo, 3 de junho de 2007

só 1,6% dos cursos privados têm nota máxima em prova

Somente 1,6% dos cursos de faculdades particulares avaliados pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) obtiveram conceito 5 (avaliação máxima) no ano passado. Já entre as universidades públicas, 21,2% conseguiram atingir o mesmo conceito nesse exame.

Um terço dos cursos das instituições particulares de ensino avaliados pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), divulgado ontem pelo governo federal, tiveram baixa avaliação em 2006.

De acordo com dados do Inep (instituto ligado ao Ministério da Educação), 30,2% dos cursos das particulares receberam os conceitos 1 e 2, os piores na escala de 1 a 5. Entre as públicas, o número é de 16,9%.

Apenas 1,6% das instituições privadas alcançaram o conceito 5, contra 21,2% das públicas. No total, o conceito 5 foi obtido por 5,1% das instituições avaliadas pelo ministério. USP e Unicamp não participam da avaliação.

O exame avaliou, no ano passado, 386.524 alunos de 1.600 instituições de ensino superior em 15 áreas: administração, arquivologia, biblioteconomia, biomedicina, ciências contábeis, ciências econômicas, comunicação social, design, direito, música, formação de professores (normal superior), psicologia, secretariado executivo, teatro e turismo. Foram avaliados 5.701 cursos.
Nessa conta estão apenas as instituições que receberam conceitos -o que não ocorreu com 208 das 896 públicas e 1.599 das 4.805 privadas. Isso se deve a critérios técnicos, como o que determina que um dos fatores que formam o conceito são as notas obtidas pelos alunos que estão concluindo o curso, o que exclui as instituições recém-criadas.

O exame, que faz parte de uma avaliação maior do governo federal, o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), completa sua terceira edição tendo avaliado todas as áreas do ensino superior -em cada edição, apenas um grupo é incluído.

Além do Enade, o Sinaes também conta com uma avaliação institucional das graduações, que serve como base para a renovação de reconhecimento dos cursos.
Somente cursos reconhecidos pelo MEC podem emitir diplomas.

Geral
O Enade mostrou que, se a situação das instituições particulares não é confortável, a média geral também é baixa. Na avaliação de formação geral, em que as questões são as mesmas para todas as áreas, apenas os estudantes da área de arquivologia, com nota 50,7, atingiram média maior do que 50, em uma escala de zero a cem.

O curso de editoração, habilitação da área de comunicação social, também ultrapassou a linha de 50%, com média de 50,1. A pior média é verificada em administração (42,1).

Se considerada a avaliação de conhecimentos específicos de cada área, a situação geral dos cursos é ainda pior: nenhuma teve média geral maior que 50. O caso mais grave é o dos estudantes de ciências econômicas, que, em média, fizeram apenas 25,7 pontos de cem.

Os resultados foram relativizados ontem pelo presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, sob a justificativa de que o exame é uma prova única para cursos e estudantes de todos os perfis. Ele ressaltou também o alto nível de subjetividade na elaboração do exame.

Segundo os dados divulgados pelo Inep ontem, a área com melhor avaliação é teatro, com 65,5% de conceitos 4 e 5. Considerado um curso dentro da área de comunicação social, cinema teve 80% de avaliações 4 e 5 -é importante ressaltar, porém, que só dez cursos da área participaram da avaliação.

Se observadas as regiões do país, a situação do Norte é a mais grave -50% dos cursos tiveram conceitos 1 e 2.

A melhor posição é a da região Sul, com 28,3% de conceitos 4 e 5.

domingo, 27 de maio de 2007

O Brasil, Segundo o IBGE

A população brasileira cresceu quatro vezes em 60 anos e, embora a taxa de analfabetismo tenha sido reduzida a um quinto do que era, o número absoluto de analfabetos, curiosamente, se manteve. É o que revela o estudo “Tendências Demográficas: uma análise da população com base nos resultados dos Censos Demográficos de 1940 e 2000”, divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira. O estudo mostrou também o crescimento da expectativa de vida do brasileiro e o aumento do percentual de casados no país, que está menos católico e mais miscigenado.

Em números absolutos, o país tinha, em 1940, a mesma quantidade de analfabetos que no ano 2000: 16,4 milhões. Já a taxa de analfabetismo de pessoas de 10 anos ou mais de idade passou de 56,8% para 12,1%, em 60 anos, no período analisado.

Em 1940, menos de um terço das pessoas entre 7 e 14 anos freqüentava a escola, enquanto que, em 2000, a taxa de escolarização passou para quase 95% das crianças nessa faixa. Os maiores crescimentos foram observados nas regiões Nordeste, que passou de 18,8% (1940) para 92,9% (2000), e Centro-Oeste, que passou de 20,5% para 95,5%. O baixo nível de escolarização da década de 40 era revelado por taxas que oscilavam entre 9,7%, para o Tocantins, e 54,3%, para o Rio de Janeiro. Em 2000, o Rio Grande do Sul atingiu 97,3% de pessoas de 7 a 14 anos de idade freqüentando escola e o Amazonas detinha a menor taxa de escolarização (83,2%).

Os dados do IBGE mostram que o número de crianças e adolescentes que trabalham caiu nos últimos 60 anos de 33,7% para 10,8%. Já o número percentual de idosos que continuam no trabalho caiu de 5,8% para 4,6%. A quantidade de idosos no país dobrou.

População passou de 41,2 milhões para 169,8 milhões em 60 anos

A população do Brasil passou de 41,2 milhões para 169,8 milhões de habitantes em 60 anos. Na década de 40, os cinco estados mais populosos do Brasil eram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 2000, a Bahia trocou de posição com o Rio de Janeiro. Em 1940, o município do Rio de Janeiro destacava-se como o de maior população, seguido dos municípios de São Paulo, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em 2000, São Paulo era o mais populoso, concentrando 6,1% do efetivo populacional do país.

Ainda de acordo com a pesquisa, a densidade demográfica do Brasil saltou de 4,8 hab/km² para 19,9 hab/km². O Centro-Oeste foi a região que apresentou maior crescimento : duas vezes e meia maior que o nacional (de 0,7 para 7,2 hab/km²), seguido pela região Norte (de 0,4 para 3,4 hab/km²), cujo aumento da densidade foi o dobro do nível nacional.

Expectativa de vida aumenta 30 anos em seis décadas

Em 60 anos, os brasileiros passaram a ter uma expectativa de vida quase 30 anos maior. Segundo a pesquisa, a expectativa de vida da população era de 42,7 anos em 1940, atingindo o patamar de 70,4 anos em 2000. Nesse período houve envelhecimento da população brasileira, que na faixa de 15 a 19 anos aumentou de 53 para 61,8%.

Índice de urbanização salta de 31,3% para 81,2%

Nos últimos 60 anos, a taxa de urbanização do Brasil saltou de 31,3% para 81,2%, segundo a pesquisa. O estudo mostra que 28,2 milhões de habitantes viviam no campo em 1940, o que correspondia a dois terços dos brasileiros, enquanto nas cidades viviam apenas 12,8 milhões. No ano 2000 o número de pessoas na região urbana saltou para 137,9 milhões, do total de 169,8 milhões de habitantes.

O Amapá, que em 1940 era o estado com a menor população urbana, apenas 7,1%, em 2000 atingiu 89% de urbanização.

Número de evangélicos aumentou em todas as regiões do Brasil

O estudo mostrou também uma expressiva redução de católicos apostólicos romanos, de 95% para 73,6%, da população no período 1940/2000. Enquanto isso, os evangélicos cresceram de 2,6% para 15,4%. O estudo demonstra que em 1940, o Nordeste concentrava 98,9% dos católicos do Brasil e no Censo de 2000, a região manteve-se com a maior proporção de católicos (79,9%). Em relação aos evangélicos, o Sul apresentava o maior percentual regional (8,9%), enquanto em 2000 esta liderança foi ocupada pela região Norte (19,8%).
Miscigenação reduziu percentual de brancos e pretos

De acordo com a pesquisa, a miscigenação reduziu o percentual de brancos e pretos, segundo classificação do IBGE, em 60 anos. As pessoas que se auto-declararam como brancas, em 1940, representavam 63,4% da população e, de acordo com o Censo 2000, houve redução para 53,7%. Também decresceu a proporção de pretos (14,6% para 6,2%). Houve grande ganho populacional para as pessoas que se auto-declararam pardas, de 21,2% para 38,5%, influenciado pelo processo de miscigenação racial.

Para o Nordeste, foi observada, em 1940, a maior proporção de pretos do país (19,6%). Essa tendência manteve-se também em 2000, entretanto, a proporção caiu para o patamar dos 7,7%. Com a proporção mais significativa de brancos, destacou-se, em 1940, a região Sul, com 89,4%, apresentando também a menor proporção de pretos (6,0%) e pardos (4,3%) do país. Em 2000, a região Sul, manteve a proporção bem elevada de brancos (83,6%). Santa Catarina (94,4%) e Rio Grande do Sul (88,7%) lideravam, no Censo 1940, o percentual de brancos, em razão da imigração, especialmente de alemães, italianos e eslavos. O Censo de 1940 não incluiu os indígenas, que foram contados no Censo 2000: 734 mil em todo território nacional, ou 0,4% dos brasileiros.

Percentual de solteiros cai um terço

Ainda de acordo com o estudo do IBGE, mais da metade das pessoas (51,6%) com 10 anos ou mais eram solteiras, enquanto em 2000 o percentual caiu para aproximadamente um terço (38,5%) da população nesta faixa. No sentido contrário, os casados cresceram de 42,2% para 49,5% da população nesta faixa de idade, e os desquitados e divorciados de 0,2% para 4,1%. O percentual de viúvos caiu de 5,9% para 4,1% neste período.

Uma característica revelada pelo Censo de 2000 foi o aumento das uniões consensuais, fato não investigado em 1940. A maior proporção de casados, em 1940, estava no Sudeste (44,6%), enquanto 60 anos mais tarde, o Sul tinha a maior proporção (54,6%).
Maior percentual de imigração ocorreu na década de 50

Segundo o estudo, a distribuição da população do país segundo a nacionalidade, em 1940, revelou que 96,6% eram brasileiros natos, sendo o percentual de estrangeiros de 3,1%. Em 2000, 99,6% eram brasileiros natos.

A pesquisa também mostrou que houve um aumento do número de pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupada em alguma atividade econômica. Em 1940, eram 28,9 milhões de pessoas e, em 2000, 65,6 milhões. A agricultura, pecuária e silvicultura em 1940, que representava 32,6% da população ocupada, declinou para praticamente a metade, 17,9% em 2000 e na proporção por sexo as mulheres dobraram a sua participação.

domingo, 6 de maio de 2007

Sites interessantes

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sexta-feira, 6 de abril de 2007

Sandro Botticelli - Primavera

Alessandro di Mariano Filipepi, mais conhecido como Sandro Botticelli (Florença, 1º de março de 144517 de maio de 1510), foi um pintor italiano da Escola Florentina.

Sua vida foi narrada na obra Vite (traduzida como "As Vidas dos Artistas"), de Giorgio Vasari.
Nascido em Florença, na popular rione de Ognissanti, aprendeu inicialmente ourivesaria e depois foi aprendiz de Andrea del Verrocchio, entre 1467 e 1470, na mesma época em que com ele estudava Leonardo da Vinci. Em 1470, abriu seu próprio estúdio independente. Nesse ano, foi encarregado de pintar o quadro "A Coragem", que seria pendurado no Tribunal do Palácio do Mercado.
Dedicou boa parte da carreira às grandes famílias florentinas, especialmente os Médici, para os quais pintou retratos. Entre tais obras, destacam-se: "Retrato de Giuliano de Medici" (14751476, Galeria Nacional de Arte, Washington, D.C.); "A adoração dos Magos" (I; II; III 14761477, Galeria Uffizi, Florença). O último rendeu-lhe a admiração e atenção da família Médici, que o colocou sob sua proteção e patronato.
Em 1472 ingressou na Companhia de São Lucas, uma fraternidade dedicada à caridade gerida por artistas. No ano seguinte, Botticelli foi chamado a Pisa, para pintar um fresco na catedral da cidade (essa obra foi perdida pelo desgaste do tempo).
Em 1481 esteve em Roma, para participar dos trabalhos na Capela Sistina, onde pintou os frescos "As Provações de Moisés"; "O Castigo dos Rebeldes" e; "A Tentação de Cristo".
Em 1505, fez parte do Comitê Florentino, organizado para decidir onde seria colocado o Davi de Michelangelo.
A sua arte foi influenciada por artistas importantes, como Fra Filippo Lippi e Antonio Pollaiuolo. Seus contatos com a família dos Médici foram sem dúvidas úteis para que obtivesse proteção e condições para que produzisse várias de suas obras-primas.
Participou dos círculos intelectual e artístico da corte de Lourenço de Médici, recebendo a influência do neoplatonismo cristão lá presente, o qual pretendeu conciliar com as idéias clássicas. Tal síntese expressa-se em "Primavera" (1477) e "O Nascimento de Vênus" (1483), ambas realizadas sob encomenda para enfeitar uma residência dos Médici e que hoje estão expostas na Galeria Uffizi, em Florença, na Itália. Até hoje não há consenso na interpretação dessas pinturas, embora creia-se que "Vênus" pode ser vista como símbolo do amor tanto cristão como pagão.
Nesta linha pagã, destacam-se também a série de quatro quadros Nastagio Degli Onesti (Museu do Prado, Madri: I; II; IV), produzidos em 1483, nos quais o artista recria uma das histórias do Decameron, de Boccaccio. Também pintou diversos quadros de temática religiosa, como "A Virgem Escrevendo O Magnificat]]" (1485); "A Virgem de Granada" (1487) e; "A Coroação da Virgem" (1490), todas expostas na Galeria Uffizi, e "Virgem com o Menino e Dois Santos" (1485), exposta no Staatliche Museen, em Berlim.
Na temática religiosa destacam-se também: "São Sebastião" (14731474, Staatliche Museen) e um afresco sobre Santo Agostinho (1480, Ognissanti, Florença).
Na década de 1490, quando os Médici foram expulsos de Florença, Botticelli passou por uma crise religiosa e tornou-se discípulo do monge beneditino Girolamo Savonarola, que pregava a austeridade e a reforma, mas Botticelli jamais deixou Florença. Nessa nova fase destacam-se: "Pietà" (princípios da década de 1490, Museu Poldi Pezzoli, Milão); "A Natividade Mística" (década de 1490, National Gallery, Londres) e; "A Crucificação Mística" (c. 1496, Fogg Art Museum, Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos). Todos expressam intensa devoção religiosa e representam certo retrocesso no desenvolvimento de seu estilo.